"Pretendo recolher cerca de 5.000 euros para ajudar a pagar 10.000 refeições a crianças desfavorecidas, esfomeadas, de comunidades muito pobres e que por vezes até comem ratazanas para matar a fome. É chocante", explicou, à Lusa, o atleta amador que habitualmente liga o desporto a um projeto humanitário.
O lisboeta, de 41 anos, começou já há duas semanas a angariar dinheiro através das redes sociais, pelo que já iniciou a sua missão de alimentar as crianças com arroz, massa, fruta, vegetais, ovos e carne.
"Todos os dias, a seguir à escola, as crianças vêm e sabem que há comida por causa da maratona", congratula-se o português que em 2015, após o devastador terramoto no Nepal, onde estava na altura, criou a associação Dreams of Katmandu, "com o propósito de apoiar crianças e famílias nos planos da edução, habitação, saúde e nutrição".
A vontade indomável de ser solidário com os outros é o motor para estes gestos humanitários, sendo que este desafio vai precisar de uma grande capacidade de superação, tendo em conta, entre outros problemas, as dificuldades respiratórias, o frio extremo e a irregularidade do terreno.
"Qualquer maratona é muito difícil, mas na montanha os 42 quilómetros são ainda mais complicados. O campo base, onde está a partida, situa-se a 5.300 metros de altitude e a meta está a 3.400. O oxigénio é rarefeito, apenas 50% da pressão ao nível do mar. Se sobreviver nestas alturas já é difícil, imagine-se correr…", ilustra.
Pedro Queirós refere ainda o trilho "muito empedrado, com muitos arbustos, curvas e árvores" que exigem "muita atenção para não torcer um pé ou cair", bem como o facto de os atletas terem de carregar a sua água e comida numa competição que começará com 15 graus negativos, pelas 07:00 locais.
"É um grande desafio físico e mental", assume, esperando conseguir concluir a prova num tempo à volta das cinco horas, sendo que o recorde de um estrangeiro no evento tem quase 40 anos, tendo sido fixado, em 1985, em 04:25 horas.
Pedro Queirós fala do seu compromisso com as "aventuras humanitárias" que basicamente se traduzem em "superar grandes desafios enquanto se ajuda os outros".
"O desporto tem esta virtude de nos tornar melhores seres humanos. Ao mesmo tempo que nos tornamos mais saudáveis, ficamos também mais perto da versão do ser humano que queremos realmente ser", conclui aquele que em 2022 foi o sexto português a atingir o cume do Evereste, num outro projeto social que visou angariar fundos para bolsas de estudo de jovens nepaleses.
O Monte Evereste foi alcançado pela primeira vez precisamente há 70 anos, em 29 de maio de 1953, por Tenzing Norgay e Edmund Hillary, razão de ser desta maratona e de várias outras celebrações por todos os Himalaias.