Em entrevista à agência Lusa no regresso de Hamburgo, onde foi um de 23.500 candidatos a prestar provas físicas e cognitivas, afirma que ficou clara a diferença entre Portugal e outros países europeus como Espanha, Itália ou Alemanha nas possibilidades de êxito num processo de seleção exigente.
O médico de 34 anos faz uma comparação com os Jogos Olímpicos, em que mais investimento significa melhor preparação e melhores resultados.
“Eu senti-me, muito sinceramente, um bocadinho um amador entre profissionais porque os meus colegas [de outros países] prepararam-se de forma diferente, tiveram tempo e são pessoas, que, pelo historial e ‘background’ dos seus países no setor espacial, países que já têm astronautas e investimento no setor do espaço que lhes proporcionou excelentes condições para irem em frente”, disse.
Pedro Caetano afirma estar no concurso “mais pelo percurso do que propriamente pela finalidade de ser astronauta”.
“Para mim, estar lá e fazer estes exames e perceber o que é necessário é o meu objetivo. Não foi desencorajador, mas temos que pensar é para a frente e a médio/longo prazo. Não é que estejamos de fora, de certeza que há portugueses muito bem qualificados na corrida por um dos poucos lugares de astronauta da Agência Espacial Europeia”, defendeu.
Para isso, Portugal deveria “já começar a pensar na próxima década”, aproveitando o facto de já existir a Agência Espacial Portuguesa desde 2017 para perceber como é que se podem ajudar “futuros candidatos, que estão neste momento na faculdade, ou a fazer os seus mestrados ou doutoramentos e que daqui a dez anos podem ser bons candidatos” nas várias especialidades requeridas.
Em Hamburgo, Pedro Caetano foi incluído num grupo de dez candidatos e considera a experiência “espetacular, com imensa partilha entre todos”.
“Deu para perceber que nós achamos que sabemos fazer isto ou aquilo com o nosso currículo, mas que há sempre pessoas que são ainda mais qualificadas e têm melhores condições. Neste caso, deu também para perceber que o nível de investimento dos países é muito diferente”, reforçou.
Antes de partir, já tinham passado por Pedro Caetano boa parte dos 321 portugueses que estão na corrida ao espaço.
Como responsável pela unidade de medicina aeronáutica do Hospital CUF do Porto, onde faz “avaliação e certificação médica de pilotos, pessoal de bordo e controladores de tráfego aéreo”, coube-lhe também dar aos candidatos portugueses um certificado médico para assegurar que estavam aptos a passar à fase seguinte do concurso.
Foi daí que surgiu a ideia de ser também candidato, referiu, aproveitando a sua especialização numa área que em Portugal não é praticada: a medicina aeroespacial, para qual teve formação em 2014 no centro espacial Johnson da NASA, em Houston, no estado americano do Texas e em 2019, no centro europeu de formação de astronautas da ESA em Colónia, na Alemanha.
“Todos os anos vou às faculdades e explico o que é a medicina aeroespacial, porque é uma área muito diferente da medicina comum. É como ver a medicina ao contrário, porque pensamos na tradicional em termos de pessoas com morbilidades, mas aqui vemos pessoas que estão com uma excelente condição física que são colocadas no ambiente mais adverso e extremo que existe”, aponta.
No concurso que a agência europeia abriu em 2021, o primeiro desde 2010 e um ano mais tarde que o previsto por causa da pandemia da covid-19, a fase mais recente apurará cerca de cinco por cento dos candidatos para a etapa seguinte.
Quanto às provas, os candidatos estão obrigados a não revelar muito sobre aspetos concretos.
“São testes cognitivos, de Matemática, de Física, são testes de lógica, de memorização, que obrigam a respostas, pensamento e decisões rápidas. Basicamente, passam muito pela memória visual, auditiva, para ver se a pessoa responde de forma correta e muito rápida a problemas complexos”, conta.
“Houve provas que me correram muito bem e fiquei contente por as ter completado, outras correram menos bem mas isso é normal. É muito difícil alguém ser incrível em todas, cerca de 12”, reconhece.
Procura-se também criar uma boa dinâmica entre os grupos de candidatos, uma vez que ser astronauta requer também capacidades sociais, de convivência e trabalho de equipa.
“Alguém que esteja numa área mais de física, ou mesmo de engenharia mecânica ou aeroespacial pode ter algumas vantagens numas provas, existem algumas que são quase de simulação de voo, com instrumentos como altímetros, velocímetros em que os pilotos estarão mais à vontade”, acrescentou.
“Infelizmente, as provas não incidiram muito sobre a parte médica, por isso não tive grande vantagem sobre os meus colegas”, admitiu.
Afirmando estar à espera de janeiro “com toda a paciência, sem grande ‘stress’ ou ansiedade”, Pedro Caetano afirma-se disponível para contribuir, com a sua formação especializada, para que “no futuro, Portugal tenha uma posição mais abrangente e mais ‘no meio’ do que tem agora, em que é um país periférico”.