"No caso de um país como o nosso, não é a Europa que nos condiciona. Somos nós que condicionamos a Europa. Isto pode parecer estranho, mas é verdade. Nós somos o elemento que pode retirar a cavilha de segurança da construção europeia", disse hoje Carlos Costa no Fórum Financeiro Outlook 2021, que decorreu em Lisboa.
O ex-governador do BdP considera que tal pode acontecer "se, por acaso, através da sustentabilidade" do modelo de desenvolvimento nacional e "da sustentabilidade das finanças públicas" for colocada "em causa a construção europeia".
"Podemos pôr em causa, porque a construção europeia está muito exposta aos desvios de gestão dos Estados-membros", argumentou o economista.
No entender do ex-governador, estão em causa atualmente "três ordens de problemas" que são "vitais na sociedade portuguesa": sustentabilidade financeira, social e ambiental.
No campo financeiro, Carlos Costa sinalizou que "não é apenas para o Estado", mas também para as famílias e para as empresas".
"Temos de nos interrogar por que é que temos uma tendência para trajetórias de endividamento insustentáveis" nos três casos.
Carlos Costa entende que "quem comanda o processo de decisão está muito mais orientado para o curto prazo e para a extração dos interesses do curto prazo, do que propriamente pela sustentabilidade do sistema".
Quanto à sustentabilidade social, o antecessor de Mário Centeno à frente do BdP referiu que é "um problema grave" em Portugal, pois o modelo social do país "não está suportado por um modelo de criação de riqueza que garanta a sua continuidade".
Já em relação à sustentabilidade ambiental, Carlos Costa considerou que "é um problema de todos que alguns vão resolver melhor que outros".
"Os que vão resolver melhor que outros são os que iniciarem a transição mais cedo", vaticinou.