Milhares de venezuelanos abandonaram o país em 2018 perante o agravamento da crise, marcada este ano pela queda da produção de petróleo, a hiperinflação, a desvalorização e reconversão da moeda local e a escassez de alimentos e medicamentos.
De acordo com a ONU, pelo menos 2,3 milhões de venezuelanos estão radicados no estrangeiro, incluindo 1,6 milhões que emigraram desde 2015 por causa da crise.
Países como o Brasil, a Colômbia, o Chile, o Panamá, a Argentina e o Equador são os principais destinos dos venezuelanos que emigraram para países da América do Sul. Milhares de portugueses ou lusodescendentes regressaram ou instalaram-se na Madeira, origem da maioria da comunidade portuguesa na Venezuela.
Este ano começou com pilhagens, nos primeiros dias de janeiro, em várias localidades venezuelanas, e com a ordem do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para serem encerradas as fronteiras com as ilhas de Aruba, Curaçau e Bonaire, para combater o contrabando de mercadorias, perante a falta de produtos básicos nas prateleiras das lojas venezuelanas.
Maduro foi à ONU denunciar uma alegada intervenção internacional nas questões internas do país e pediu ajuda financeira para repatriar emigrantes venezuelanos. Aquele organismo aprovou uma resolução instando a Venezuela a receber ajuda humanitária internacional.
Em agosto, entrou em vigor um pacote de medidas que passaram por uma reconversão monetária que eliminou cinco zeros ao bolívar forte (moeda local), dando origem ao bolívar soberano, e pelo aumento de 35 vezes do salário mínimo, assumindo o Estado, temporariamente, o pagamento aos trabalhadores de empresas que não consigam pagar esse acréscimo.
As mesmas medidas incluíam um aumento dos impostos, uma desvalorização da moeda, alterações no sistema de controlo cambial e a passagem da gasolina para preços internacionais, pelo menos nos Estados fronteiriços.
Nicolás Maduro ancorou o dólar à criptomoeda venezuelana Petro e em setembro o Banco Central da Venezuela iniciou a venda de lingotes de ouro.
Durante o mês de setembro, 34 gerentes de supermercados de portugueses foram detidos pelas autoridades venezuelanas, que os acusaram de boicote económico, açambarcamento de produtos e incumprimento dos preços máximos de venda ao público de produtos básicos.
Em outubro, os ministérios da Saúde e dos Negócios Estrangeiros de Portugal assinaram, em Caracas, um acordo para reforçar o envio de medicamentos e os cuidados médicos aos luso-venezuelanos radicados na Venezuela.
Politicamente, este foi ainda o ano em que Nicolás Maduro foi reeleito para um novo mandado presidencial (que começará a 10 de janeiro de 2019) e em que surgiram tensões entre a Venezuela e outros países, como os Estados Unidos e a União Europeia, que condenaram por diversas vezes o Governo da Venezuela.
Em 4 de agosto, Maduro foi alvo de um atentado falhado, em que foram usados drones, durante uma cerimónia militar. Segundo as autoridades venezuelanas, foi uma tentativa de ataque dirigida desde Washington e que teve a participação da Colômbia, o que Bogotá desmentiu.
Em 2018 registaram-se também momentos de tensão nas relações entre a Venezuela, a Guiana e o Panamá, tendo este último país suspendido, por 90 dias, as operações de várias companhias aéreas venezuelanas, depois de Caracas acusar empresas panamianas de corrupção. Por outro lado, Georgetown (capital da Guiana) reforçou a vigilância militar na fronteira e decidiu recorrer à ONU para resolver o diferendo entre os dois países sobre o território Esequibo (que ambos reclamam).
Já em dezembro, o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, visitou a Venezuela, onde declarou total apoio a Maduro.
O Presidente venezuelano viajou entretanto até à Rússia, onde se encontrou com seu homólogo, Vladimir Putin. Caracas e Moscovo assinaram vários acordos de cooperação bilateral e já esta semana aviões militares russos chegaram à Venezuela para exercícios, motivando a preocupação da Organização de Estados Americanos (OEA), que exortou os países da região a constatarem se há violação de tratados internacionais.
LUSA