Numa carta dirigida a Guterres, ONG como a Oxfam, Save the Children, Care, entre outras, expressaram a sua "mais profunda preocupação" quanto à possibilidade de a nação do Corno de África experienciar fome em 2022.
"A situação está a deteriorar-se rapidamente, com cerca de 4,5 milhões de pessoas a necessitar de assistência humanitária urgente devido ao agravamento das condições de seca", sublinharam as ONG, citadas pela agência espanhola Efe.
Os meteorólogos preveem um trimestre de chuvas consecutivas abaixo da média para a estação húmida, que decorre de abril a junho na maior parte do país.
Também alertam que mais de 1,4 milhões de crianças, quase metade da população somali com menos de 05 anos, podem sofrer de desnutrição aguda.
Na missiva, as ONG comparam a situação iminente à fome que ocorreu em 2010/2011, na qual mais de um quarto de milhão de pessoas morreu, incluindo 133.000 crianças menores de cinco anos.
As organizações avisaram que, embora alguns doadores se tenham comprometido a financiar o Plano de Resposta Humanitária da Somália, o qual procura 1.500 milhões de dólares (1.373 milhões de euros), não foram alocados senão 4% dos fundos necessários para satisfazer as necessidades da população somali.
Referindo-se à comunidade internacional, as ONG disseram que "ainda não captou a urgência da situação, que se está a deteriorar rapidamente" e demonstraram-se preocupadas por suporem que a fome na Somália não ocupa um "lugar suficientemente elevado na lista de respostas internacionais a desastres, focadas agora na crise da Ucrânia".
Assim, os subscritores da carta pedem a Guterres que inste os doadores e Estados-membros a comprometer "recursos adicionais para permitir uma aplicação da resposta imediata de assistência humanitária" e "salvar vidas".
A carta aponta também que a seca atual é uma "crise regional", afetando outros países do Corno de África, mas os somalis enfrentam "a pior parte".
As ONG acrescentam ainda: "A oportunidade para evitar uma fome está-se a esgotar rapidamente. Se não queremos que a história se repita, não podemos atrasar a ação por mais tempo".
A Somália decretou o "estado de emergência humanitária" devido à pior seca em quatro décadas, um problema que se acrescenta ao conflito armado e caos que consomem o país desde que o ditador Mohamed Siad Barre foi derrubado em 1991, deixando o país sem um governo eficaz e nas mãos de senhores da guerra e milícias islâmicas, como o Al-Shebab.