Os dados, que classificou de “aterradores”, foram hoje apresentados por Volker Türk na abertura da 56º sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que decorre até 12 de julho em Genebra, Suíça.
O responsável enfatizou as consequências dos “ataques implacáveis” do exército israelita em Gaza, em boa parte responsáveis pelo forte aumento do número global de vítimas entre civis.
“Custa-me iniciar a minha atualização global, mais uma vez, com a crueldade da guerra. Em 2023, os dados recolhidos pelo meu gabinete mostram que o número de mortes de civis em conflitos armados aumentou 72%. De forma aterradora, os dados indicam que a proporção de mulheres mortas em 2023 duplicou e a de crianças triplicou, em comparação com o ano anterior”, apontou o alto-comissário.
Türk manifestou-se particularmente “chocado com o desrespeito pelos direitos humanos internacionais e pelo direito humanitário por parte das partes envolvidas no conflito em Gaza”.
“Tem havido mortes e sofrimentos inaceitáveis. Mais de 120 mil pessoas em Gaza, na sua esmagadora maioria mulheres e crianças, foram mortas ou feridas desde 07 de outubro, em resultado das intensas ofensivas israelitas”, indicou
Referiu que desde que Israel intensificou as suas operações em Rafah, no início de maio, quase um milhão de palestinianos foram mais uma vez deslocados à força, enquanto o fornecimento de ajuda e o acesso humanitário se deterioraram ainda mais”.
Também na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, a situação “está a deteriorar-se dramaticamente”, prosseguiu, apontando que, à data de 15 de junho, “528 palestinianos, 133 dos quais crianças, tinham sido mortos pelas forças de segurança israelitas e/ou por colonos desde outubro, o que, em muitos casos, suscita sérias preocupações quanto a mortes ilegais”.
No mesmo período, 23 israelitas foram mortos na Cisjordânia e em Israel em confrontos ou ataques de palestinianos, enquanto, recordou, “os grupos armados palestinianos continuam a manter muitos reféns e, em alguns casos, em zonas densamente povoadas, colocando-os a eles e aos civis palestinianos em maior risco”.
“Os ataques implacáveis de Israel em Gaza estão a causar imenso sofrimento e destruição generalizada. A recusa e a obstrução arbitrárias da ajuda humanitária prosseguiram, e Israel continua a deter arbitrariamente milhares de palestinianos. Esta situação tem de acabar”, sustentou o responsável máximo da ONU para os Direitos Humanos.
Volker Türk também se manifestou “extremamente preocupado com a escalada da situação entre o Líbano e Israel”, indicando que os dados disponíveis apontam para que já tenham sido mortas “401 pessoas no Líbano, incluindo paramédicos e jornalistas”.
“Mais de 90 mil foram deslocadas no Líbano e mais de 60 mil foram deslocadas em Israel, com 25 vítimas mortais israelitas. Milhares de edifícios foram destruídos. Reitero o meu apelo à cessação das hostilidades e aos atores com influência para que tomem todas as medidas possíveis para evitar uma guerra em grande escala”, disse.
Relativamente à guerra na Ucrânia, lamentou que também aqui a situação esteja a deteriorar-se, sublinhando que “a recente ofensiva terrestre das forças armadas russas na região de Kharkiv, na Ucrânia, destruiu comunidades inteiras”,
Os residentes “muitos dos quais idosos, [são forçados] a esconderem-se em caves, sem eletricidade, água ou alimentação adequada, à medida que a zona era alvo de intensos ataques com armas explosivas com efeitos de área alargada”.
O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos realçou que, “além de infligir um sofrimento humano insuportável, a guerra tem um preço elevado”, e revelou que, “até ao final de maio de 2024, o fosso entre as necessidades de financiamento humanitário e os recursos disponíveis ascende a 40,8 mil milhões de dólares”, cerca de 38 mil milhões de euros.
Lamentando que, em média, apenas cerca de 16,1% dos apelos de ajuda humanitária sejam financiados, Volker Türk assinalou, “a título de comparação, que as despesas militares a nível global em 2023 ascenderam a perto de 2,5 triliões de dólares (cerca de 2,3 triliões de euros), um aumento de 6,8% face ao ano anterior, o mais acentuado desde 2009.
A concluir a sua intervenção, o alto-comissário advertiu que se está a assistir a “ataques verbais cada vez mais agressivos, a ameaças e represálias e a campanhas virulentas nas redes sociais contra instituições e mecanismos internacionais, incluindo as Nações Unidas em geral” e o seu gabinete em particular, mas também visando “titulares de mandatos dos procedimentos especiais, o Tribunal Internacional de Justiça e o Tribunal Penal Internacional”.
“Isto é inaceitável. Estas instituições foram criadas e mandatadas pelos Estados precisamente para levar a cabo o seu trabalho crucial. E os Estados devem facilitar este trabalho e protegê-lo de interferências e ataques indevidos”, exortou.
Lusa