“Ninguém pode estar descansado relativamente aos riscos de incêndio”, afirmou António Costa, que falava aos jornalistas em Aigra Velha, uma aldeia do concelho de Góis, onde uma equipa de sapadores florestais do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) tem realizado trabalhos de gestão de combustível.
Apesar de toda a “cadeia” de operações associada ao combate a incêndios estar “empenhada e mobilizada”, o primeiro-ministro admitiu que o contexto acaba por não ser favorável face à realidade da floresta no país e às alterações climáticas, que irão “aumentar todos os anos o risco”.
“É importante as pessoas perceberem que isto é um esforço de equipa”, notou, apontando para a necessidade de se avançar com a “reforma estrutural da floresta”, para que o país tenha “uma composição do espaço florestal que melhore o rendimento dos produtores e que permita que não haja um território só ocupado por eucaliptos e pinheiros – árvores de crescimento rápido -, que aumentam o risco de incêndio quando há uma excessiva concentração”.
“Temos que diversificar a composição daquilo que é a ocupação deste território para termos mais resistência. Esse é um trabalho fundamental”, vincou António Costa, que tem percorrido hoje diversos concelhos da região Centro para verificar no terreno os meios e recursos para o combate aos incêndios, numa semana que se prevê de altas temperaturas.
Em declarações aos jornalistas, António Costa referiu que o Governo irá reforçar a partir de hoje a campanha de sensibilização para comportamentos preventivos face ao risco de incêndio.
Em Aigra Velha, onde o Governo já tinha estado no final de abril, o primeiro-ministro voltou a focar-se na responsabilidade individual de cada um, reiterando a necessidade de a população não ter comportamentos de risco.
O líder do Governo realçou que “os incendiários são uma parte pequena” das causas de incêndio, sendo a maioria uma consequência de “descuidos” que acabam por provocar ignições.
Antes de falar com os jornalistas, António Costa assumiu quase o papel de moderador, lançando perguntas e observações a várias das pessoas que compunham a comitiva em Aigra Velha, como foi o caso do presidente do ICNF, Nuno Banza, o presidente da Associação de Produtores Florestais de Góis, Vítor Duarte, o presidente da Câmara daquele concelho, Rui Sampaio, o presidente da Proteção Civil, Duarte Costa, o presidente da Liga dos Bombeiros, António Nunes, ou o secretário de Estado das Florestas, João Paulo Catarino, num grupo que ainda contava com o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, e o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro.
Durante essa conversa mediada por Costa, alguns intervenientes discorreram sobre projetos previstos no Plano de Recuperação e Resiliência e trabalho que tem sido feito na transformação da paisagem.
O ministro do Ambiente realçou que o ICNF, em conjunto com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), está a tentar criar o mercado voluntário de carbono nacional.
“A partir do momento em que o fizermos, o valor natural da paisagem passa a ter um valor efetivo. E há muito interesse, neste momento, nos setores industriais mais poluentes em adquirir títulos de capital natural nos territórios onde existe essa capacidade de sumidouro para compensar as suas emissões”, disse.
Para Duarte Cordeiro, essa alteração levaria a que “a gestão da paisagem natural por si só já permitisse remuneração”.