Neta de uma portuguesa que deixou a ilha da Madeira para procurar uma vida melhor do Rio de Janeiro, Luciane decidiu seguir os passos da avó e aos 18 anos deixou o Brasil, país onde nasceu, para procurar uma vida melhor nos Estados Unidos da América (EUA).
Assim como muitos brasileiros, Luciane manteve-se no país ilegalmente, o que a levou a esforçar-se em dobro para conseguir alguma oportunidade de trabalho.
"Tinha duas tias nos EUA, mas comecei do zero, sem falar inglês. Quando cheguei, não podia trabalhar, porque não tinha um visto permanente de imigração, então fui fazendo trabalhos mais pequenos em cafés, como ‘baby-sitter’ e em lojas de roupa", disse a lusodescendente à Lusa.
Originalmente, Luciane tinha o sonho de ser dentista, mas as tias recusaram-se a ser suas tutoras, temendo que o facto de a sobrinha estar ilegal no país as pudesse prejudicar. Então, os planos de ir para a escola ficaram de lado e Luciane teve de começar a trabalhar, mas garante que foi "o melhor" que lhe podia ter acontecido
Contudo, estava longe de imaginar que seria numa loja de roupa que a ideia de trabalhar no mercado imobiliário surgiria.
"Tínhamos uma cliente que, sempre que a loja recebia mercadoria nova, ela comprava tudo o que chegava. E eu perguntei ao gerente o que é que essa mulher fazia para ter tantas condições de comprar tudo o que queria, e ele disse-me que ela era corretora imobiliária", contou.
"Então meti na minha cabeça que também teria essa profissão, porque achei que seria a maneira mais rápida de ter sucesso”, admitiu a brasileira, que hoje tem cidadania norte-americana.
Aos 20 anos, casou-se com um norte-americano, filho de emigrantes provenientes da antiga Jugoslávia e de quem adotou o sobrenome "Serifovic", e nessa ocasião começou também o seu percurso no mercado imobiliário.
"Não foi fácil, comecei por vender e alugar apartamentos no centro de Nova Iorque, depois tornei-me assistente de gerente, depois gerente, vice-presidente, executiva, diretora e hoje sou a dona da minha própria empresa de vendas internacionais, num mercado de luxo, que engloba celebridades", afirmou.
Luciane é hoje CEO e fundadora da ‘Luxian International Realty’, "a primeira empresa imobiliária internacional de luxo de base virtual e que usa a tecnologia ‘blockchain’ no mundo" e considera que o mercado virtual é o futuro do ramo imobiliário.
"Tive um caso em que consegui vender em um mês e meio, com apenas visitas virtuais, o que imobiliárias físicas não estavam a conseguir vender há sete meses. O mercado virtual é o futuro. Mesmo antes da pandemia, eu já estava a ver que as pessoas queriam conveniência, queriam ver o seu tempo otimizado. E eu queria um negócio sustentável", disse.
A empresária abriu esta empresa virtual um ano antes da pandemia e foi motivada pelos alugueis milionários que as imobiliárias pagam para ter as suas lojas e escritórios abertos em Nova Iorque.
E para quem acredita que é impossível comprar uma casa sem a visitar presencialmente, Luciane garante o oposto.
"Já vendi várias casas sem que os clientes vissem a casa fisicamente uma única vez. As pessoas confiam em mim e eu forneço-lhes visitas virtuais, planilhas com as divisões e tamanhos de cada divisão da casa. Consigo mostrar tudo como se estivessem presentes, só ainda não consigo mostrar o cheiro", disse, entre risos.
"Já ajudei um famoso jogador de baseball. Como ele tem uma vida muito ocupada, com muitos treinos, mostrei-lhes virtualmente o imóvel, a ele e à esposa, e eles já se mudaram esta semana", contou à Lusa, em Nova Iorque.
No mês passado, a lusodescendente foi uma das profissionais homenageadas no prémio ‘Premier Business Women of Long Island 2022’. O evento celebra mulheres que ocupam altos cargos de liderança e causam impactos positivos na região de Long Island, em Nova Iorque.
"Sou a primeira mulher de uma minoria – imigrante latina – a ter uma companhia virtual de luxo que usa a tecnologia para vender casas virtualmente. Durante a pandemia, ajudei muitas pessoas que estavam a tentar vender os seus imóveis e que não estavam a conseguir porque as imobiliárias estavam todas fechadas", explicou, sobre os motivos que a levaram a ser agraciada com este prémio.
Além da sua carreira no mercado imobiliário, Luciane Serifovic foi também campeã de fisiculturismo – atividade que manteve durante muito tempo em segredo por temer que afetasse a sua credibilidade no ramo imobiliário – , e é autora do livro “Handle It: Get it Together and finally have it all”, uma obra que redigiu para inspirar os imigrantes que chegam ao país.