“As posições estão a convergir em pontos secundários. Mas nas principais questões políticas, continuamos afastados”, disse Vladimir Medinsky, negociador-chefe de Moscovo, enquanto o chefe da diplomacia ucraniana, Dmitry Kuleba admitia que as negociações estão a ser “muito difíceis”.
Ambos rejeitaram as declarações feitas horas antes pelo Presidente turco, Recep Erdogan, que admitia entendimento em quatro dos pontos do caderno negocial.
As negociações vão prosseguir, enquanto as duas partes continuam os combates em diferentes pontos da Ucrânia.
Entretanto, a Rússia reconheceu hoje a morte de 1.351 dos seus soldados desde o início da ofensiva militar e acusou os países ocidentais de cometerem “um erro” ao entregarem armas a Kiev.
“No decurso da operação militar especial, foram mortos 1.351 militares e 3.825 feridos”, declarou em conferência de imprensa o adjunto do chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, Serguei Rudskoi.
Este balanço situa-se muito abaixo do estimado pela NATO (entre 7.000 e 15.000 mortos) e pela Defesa ucraniana (mais de 16.000).
Hoje soube-se que cerca de 300 pessoas terão morrido no teatro de Mariupol, bombardeado pela força aérea russa a 16 de março, quando centenas de pessoas estavam ali abrigadas.
“Testemunhas têm informações de que cerca de 300 pessoas morreram no Teatro Dramático de Mariupol, na sequência do bombardeamento por um avião russo", escreveu a câmara municipal de Mariupol, na rede social de mensagens Telegram.
A Rússia reivindicou a destruição da maior reserva de combustível do exército ucraniano nos arredores de Kiev.
O reservatório, segundo Moscovo, foi destruído na quinta-feira na sequência de um ataque com mísseis de cruzeiro contra os arredores da capital da Ucrânia.
"A maior reserva de carburante que restava ao exército ucraniano e que abastecia uma grande parte das unidades no centro do país" foi destruída, disse o porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konachenkov, através de um comunicado.
Um outro bombardeamento das forças russas atingiu um centro médico em Kharkiv, no leste da Ucrânia, matando quatro civis e provocando ferimentos em outras três pessoas, disse hoje a polícia local, citada pelas agências internacionais.
"Sete civis ficaram feridos, quatro dos quais não resistiram aos ferimentos na sequência de um bombardeamento efetuado com um lançador múltiplo de ‘rockets’”, informou a polícia numa mensagem publicada na rede social Telegram, acrescentando que o ataque ocorreu "por volta das 05:45 GMT (a mesma hora de Lisboa)" visando um "centro médico" na zona sul de Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, situada perto da fronteira com a Rússia.
Num revés para as esperanças ucranianas, que dependem muito do armamento ocidental, a Hungria reafirmou que não permitirá a passagem pelo seu território de armas para a Ucrânia por não pretender envolver-se na guerra, após o líder ucraniano ter questionado esta semana por que motivo Budapeste impede esse transporte.
“O Presidente da Ucrânia [Volodymyr Zelensky] pediu à Hungria e ao primeiro-ministro [Viktor] Orbán que façam duas coisas. Primeiro, reforçar as sanções ao setor energético e permitir o envio de armas à Ucrânia. O primeiro-ministro rejeitou ambos os pedidos”, informou o porta-voz do Governo húngaro, Zoltán Kovács.
O Governo de Kiev continua a insistir no endurecimento de sanções a Moscovo e hoje pediu à União Europeia (UE) que encerre as suas fronteiras com a Rússia e a Bielorrússia.
Pelo seu lado, a Rússia negou qualquer violação do direito internacional, após ser acusada pela Ucrânia de usar bombas de fósforo na ofensiva militar que conduz naquele país há um mês.
"A Rússia nunca violou qualquer convenção internacional", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, quando questionado pela imprensa sobre as acusações feitas pelo Presidente da Ucrânia.
Moscovo considera que as sanções ocidentais são injustas e disse hoje que a sua eventual expulsão do G20 devido à "operação militar especial" na Ucrânia "não será mortal", embora tenha sublinhado a importância da cooperação nesse formato.
"Quanto ao formato do G20, é importante. Entretanto, nas atuais circunstâncias, quando a maioria dos membros está em estado de guerra económica connosco, a eventual exclusão de Moscovo não será mortal", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na conferência de imprensa diária.
O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, também acusou o Ocidente de ter declarado uma “guerra total” à Rússia com o objetivo de “destruir” a sua economia e o país.
“Foi-nos declarada uma guerra híbrida total, com o objetivo de destruir, quebrar, aniquilar, estrangular a economia russa, e a Rússia no seu todo”, afirmou Lavrov durante um encontro com uma fundação diplomática russa.
No campo diplomático, o Presidente chinês, Xi Jinping, disse hoje, numa conversa por telefone com o homólogo britânico, Boris Johnson, que a comunidade internacional deve “criar as condições certas” para resolver o conflito na Ucrânia e “promover negociações de paz com sinceridade”.
“A comunidade internacional deve promover as negociações de paz com sinceridade. Devem ser criadas as condições necessárias para resolver este assunto. Devemos fazer tudo o possível para que a paz retorne à Ucrânia”, disse Xi.
A invasão russa da Ucrânia já matou pelo menos 1.081 civis, dos quais 93 eram crianças, e feriu 1.707, incluindo 120 menores, indicou hoje o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).
No total, o Alto-Comissariado contabilizou, até às 24:00 de quinta-feira (hora local), 2.788 vítimas civis desde o início da invasão russa na Ucrânia, a 24 de fevereiro.
A ONU informou ainda que mais de 3,7 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia e dos combates desencadeados com a invasão russa, confirmando um abrandamento do fluxo migratório nos últimos dias.
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) registava 3.725.806 refugiados ucranianos no seu site na Internet às 12:00 de hoje, mais 50.854 do que na contagem anterior, divulgada na quinta-feira.
Ainda, cerca de 13 milhões de pessoas estão retidas em áreas afetadas pelo conflito na Ucrânia e sem meios para fugir devido, entre outras coisas, à destruição de estradas e pontes, acrescentou a ONU.
Lusa