"O abastecimento melhorou significativamente. Agora, quando vamos aos supermercados há massa, óleo, feijão, queijo, açúcar e outros produtos importados para substituir as faltas nacionais, mas os preços são exageradamente altos para o que ganhámos, temos que pensar várias vezes o que e quanto comprar", explicou uma portuguesa à Agência Lusa.
Natural da Madeira, Maria Rosária Fernandes, 58 anos, doméstica, explicou que o marido trabalha num restaurante e "ganha mais de dois salários mínimos mensais, com as gorjetas", mas que mesmo assim, têm que "fazer contas" para poder viver "com um mínimo de condições".
"Imagine, meio quilograma de massa custa 4.500 bolívares (5,75 euros à taxa de câmbio oficial), um quilograma de açúcar 8.000 (10,20 euros), um quilograma de queijo amarelo custa mais de 20.000 Bs (25,50 euros) e o salário mínimo mensal, com todos os subsídios incluídos, ronda os 150.000 (191,50 euros)", disse.
Esta situação, explicou, tem levado esta portuguesa a fazer fila na sucursal da rede de supermercados Central Madeirense, em Chacaíto, duas a três vezes por semana, para comprar alguns produtos que chegam a preços subsidiados pelo Governo, mas "muitas vezes não há e só vendem um ou dois [bens] por pessoa".
Maria Rosária tem ainda uma outra "preocupação", a de chegar a casa com tudo o que comprou por causa dos assatos: "duas vezes tentaram tirar-me a bolsa com as compras enquanto caminhava".
José Vieira, 65 anos, esteve hoje "vendo o que conseguia" no supermercado. Leva sempre consigo uma bolsa preta onde põe as compras e assim evita que alguém veja o que leva.
"Preciso de margarina porque acabou e o meio quilograma está em 4.000 Bs (5,10 euros), ainda olhei para a manteiga mas o pacote de 200 grs custa 8.500 Bs (10,85 euros). É impensável comprar algumas coisas a estes preços", disse.
"Nunca me roubaram as compras, mas conheço pessoas que lhes tiraram tudo. Também deixei de usar um carrinho de rodas de supermercado porque chama muito a atenção", explicou.
Sobre o abastecimento de produtos, disse, "agora há mais coisas que no ano passado, há produtos italianos, brasileiros, chilenos, do Uruguai, mas a preços impagáveis".
"Já não tenho azeite, mas não penso comprar tão cedo. Vi duas marcas portuguesas a 40.000 bs (51 euros) o litro. É um luxo a que não posso dar-me", frisou.
Um gerente de um supermercado explicou à Agência Lusa que cada vez é mais frequente as pessoas ficarem a olhar para um produto e "esperarem alguns minutos antes de decidirem se compram ou não".
"Antes as pessoas agarram os carrinhos e metiam os produtos dentro sem olhar o preço, agora consultam tudo antes de decidir comprar. Além disso, muitas vezes, as pessoas deixam produtos nas caixas porque não fazem bem as contas, ou porque de um dia para o outro houve uma subida de preços, por exemplo nos ovos que agora custam quase 4.000 bolívares a dúzia (5,10 euros)", frisou.
A degradação económica do país está a preocupar a população venezuelana num momento em que a tensão política levou os tribunais, apoiantes do Presidente, a retirar os poderes ao parlamento, com maioria da oposição.