"Justiça, justiça! A burca (véu) não é nossa", afirmavam as mulheres, na sua maioria tinham com o rosto, que conseguiram caminhar quase 200 metros no centro de Cabul, antes de serem travadas pelos combatentes talibãs, que também pediram a saída dos jornalistas do local.
O Governo emitiu no sábado uma ordem executiva, endossada pelos talibãs e pelo líder supremo afegão Hibatullah Akhundzada, ordenando que as mulheres cubram totalmente os seus corpos e rostos em público.
Os talibãs especificaram que a sua preferência será, em nome da "tradição", pela burca – véu integral na maioria das vezes azul e com uma malha na altura dos olhos -, mas que outros tipos de véu revelando apenas os olhos seriam tolerados.
Também declararam que, a menos que as mulheres tivessem um motivo muito importante para sair, era "melhor que ficassem em casa".
Na capital, o decreto não pareceu ter efeito imediato, muitas mulheres continuaram a andar pelas ruas com o rosto descoberto ou escondendo-o com máscara.
Essas novas restrições, denunciadas em particular pela ONU e pelos Estados Unidos, confirmam a radicalização dos talibãs, que inicialmente tentaram mostrar uma face mais aberta do que durante a sua passagem anterior no poder.
No seu primeiro período no poder – entre 1996 e 2001 – os talibãs privaram as mulheres de quase todos os seus direitos, em particular impondo-lhes o uso da burca.
Agora, os talibãs renegaram os compromissos assumidos, excluindo em grande parte as mulheres com emprego público, negando-lhes o acesso à escola secundária.
Nas últimas duas décadas, as mulheres afegãs tinham adquirido novas liberdades, voltando à escola ou candidatando-se a empregos em todos os setores de atividade, mesmo que o país permanecesse socialmente conservador.
Depois de os talibãs terem voltado ao poder em agosto, as mulheres tentaram pela primeira vez fazer valer os seus direitos manifestando-se em Cabul e nas principais cidades.
Mas o movimento foi reprimido, muitos ativistas foram detidos, às vezes por várias semanas, e as manifestações tornaram-se extremamente raras.
Lusa