Em declarações à agência Lusa, o governante, que inicia hoje uma visita de três dias à Venezuela, referiu que "quando se fala de retirar os portugueses […], há muitos que reagem negativamente porque têm lá as suas casas, os seus estabelecimentos, as suas empresas, as suas indústrias, os seus filhos, os seus netos".
Esses portugueses consideram que "aquele é o seu país e é por isso que estão dispostos a baterem-se pela Venezuela, tal como fizeram nas sucessivas crises que o país atravessou nas décadas de 1980 ou 1990, sempre com dificuldades económicas e sociais e de segurança", acrescentou o secretário de Estado.
No entanto, José Luís Carneiro disse que há muitos outros portugueses que querem sair, não só para Portugal, nomeadamente para a Madeira, de onde a maioria é oriunda, mas também para Brasil, Espanha, Estados Unidos, Colômbia ou França.
O secretário de Estado garantiu que o Governo também está a acompanhar estes movimentos "para que não lhes falte o apoio necessário, nomeadamente da parte das autoridades consulares".
Esta é a segunda visita de José Luís Carneiro à Venezuela no espaço de um ano. Na altura, reconheceu que os portugueses estavam a passar por muitas dificuldades e anunciou um reforço dos apoios sociais e da segurança nos postos consulares.
Agora, disse, pretende verificar se é necessário reforçar este apoio, mas também "manter viáveis e fluídos" os canais de comunicação com as autoridades venezuelanas, que "têm os instrumentos para garantirem a segurança aos portugueses".
Questionado sobre se as autoridades venezuelanas estão em condições de garantir essa segurança, o governante respondeu apenas: "Quem tem ainda autoridade sobre a polícia e sobre as forças militares é o Estado venezuelano e o Governo que está em funções".
O secretário de Estado vai ainda encontrar-se com as autoridades consulares portuguesas, "que têm uma função primordial no apoio aos portugueses", bem como com representantes das associações e com empresários.
"São muitos milhares de empresários portugueses de áreas como restauração, distribuição, infraestruturas e obras públicas […] porque eles também têm uma leitura muito clara do que está a acontecer" e têm também "mobilizado muitos recursos para apoiar os portugueses que se encontram no país", disse.
Questionado sobre o plano de contingência para o caso de ser necessário retirar portugueses daquele país, Carneiro disse que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, "já disse tudo o que pode ser dito" sobre essa questão "de segurança e salvaguarda de pessoas e bens".
O ministro reiterou há duas semanas, no parlamento, que o plano de contingência existe, não apenas para a Venezuela, mas "para todos as regiões onde se localizam comunidades portuguesas".
De acordo com o programa da visita, o secretário de Estado, que será acompanhado pelo secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Europeus da Madeira, Sérgio Marques, vai deslocar-se a Caracas e a Valência.
Calcula-se que vivam na Venezuela cerca de meio milhão de portugueses, dos quais perto de 80 por cento oriundos da Madeira, mas este número já inclui os lusodescendentes. O número de inscritos nos consulados é 180.514.
As manifestações a favor e contra o Presidente Nicolás Maduro intensificaram-se desde 01 de abril e segundo dados oficiais pelo menos 56 pessoas já morreram desde então em vários confrontos entre as forças do regime e os apoiantes da oposição.