Rui Silva, do Algarve Biomedical Center Research Institute da Universidade do Algarve, e Rui Martinho, do Instituto de Biomedicina da Universidade de Aveiro, são os autores do estudo genético publicado na revista Nature Communications, cujas conclusões permitem dar mais um passo rumo ao objetivo de criar fármacos que ajudem a evitar a perda das funções musculares que se degradam à medida que a idade avança.
Rui Silva disse à agência Lusa que os investigadores começaram a estudar, há “muitos anos”, na Universidade do Algarve (UAlg), “uma modificação de proteínas, que é muito comum e existe em todas as células”, incluindo as células humanas, para “compreender qual era a relevância para a biologia, para o funcionamento do organismo”, a partir de um modelo animal, a mosca da fruta, que tem um dos genomas mais parecidos ao do ser humano.
Os investigadores começaram a perceber que havia animais que “viviam menos, que tinham problemas de locomoção”, e tentaram “começar a perceber o que estaria por detrás desses problemas” de perda de função muscular, em colaboração também com colegas de uma universidade dinamarquesa (Bergen).
No estudo agora publicado, a equipa de investigação descreveu “qual é a importância dessa modificação para as proteínas e para a sua função” e de que forma essa modificação de proteínas, quando não ocorre, leva a uma perda de locomoção e a uma perda da função muscular, que aumenta com a idade.
“Essa perda acontece no nosso modelo animal, em humanos – nós à medida que envelhecemos vamos perdendo massa muscular e vamos perdendo função muscular -, e é das primeiras manifestações de envelhecimento que existem”, assinalou.
A mesma fonte frisou que, por volta dos 30 anos, os humanos começam a perder massa muscular, num processo que se prolonga ao longo de várias décadas, e quando se chega a idades mais avançadas, 70 ou 80 anos, essa perda pode já ser significativa e levar a outros problemas, como quedas ou hospitalizações.
“Essa doença chama-se sarcopenia, que é uma perda muito significativa de massa muscular, que depois afeta a qualidade de vida”, disse ainda Rui Silva, destacando que os “resultados indiretos” apontam no sentido de que “a modificação que se está a estudar também é importante para a função muscular em humanos”.
Rui Silva explicou que a “maior parte das proteínas humanas tem essa modificação e existem diferentes complexos celulares que fazem essa modificação” e o estudo olhou para “esse complexo, que é responsável por modificar uma pequena percentagem das proteínas das células”, e descobriu que “essa modificação, especificamente por esse complexo”, protege da degradação.
“Sabemos que essa modificação protege da degradação das proteínas e sabemos que só algumas das proteínas que são protegidas da degradação é que são importantes para a perda de função muscular. O nosso objetivo e próximo passo será então identificar quais são essas proteínas específicas, porque sabemos que são certamente importantes para a manutenção da função muscular”, acrescentou.
Rui Silva salientou que, quando estiverem identificadas, os investigadores podem encontrar vias de atuação, como a farmacológica, para “inverter o processo de perda de função muscular”, mas reconheceu que é necessário obter mais financiamento para prosseguir com o trabalho e alcançar esse objetivo.
Lusa