A líder da Fundação José Saramago, Pilar del Río, foi responsável pelo depósito de alguns “tesouros” de José Saramago, documentos e objetos que a partir de agora ficam sob custódia do Instituto Cervantes, que em Espanha corresponde ao Instituto Camões em Portugal.
O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa presidiu à sessão solene, que contou com as presenças do ministro dos Negócios Estrangeiro espanhol, José Manuel Albares, e do ministro da Cultura espanhol, Miquel Iceta, entre outros.
O escritor é o primeiro português e o segundo autor lusófono a receber o que é considerado uma distinção, depositar uma parte do seu legado na Caixa das Letras, onde personalidades da cultura consignam parte do seu legado no cofre da entidade pelo tempo que quiserem.
Em 2021, Nelida Piñon – uma escritora hispano-brasileira, integrante da Academia Brasileira de Letras, a qual já presidiu – ocupou a gaveta número 1261 do cofre com uma primeira edição de um romance seu, o original de outro e um exemplar da sua fotobiografia.
No ano em que se comemora o centenário do nascimento de José Saramago, a data “simbólica” do aniversário da Revolução de 1974 foi escolhida “para celebrar a união entre duas culturas, dois países, e também duas instituições”.
Entre o espólio depositado estavam “provas de impressão” da peça de Saramago "Que farei com este livro?", sobre as tentativas de Camões para publicar Os Lusíadas.
A primeira edição da "História do futuro" do Padre António Vieira, que Saramago afirmou que nunca ninguém tinha escrito tão bem em português, também ficou depositada na Caixa das Letras.
Uma lista telefónica de Saramago de 1986 e um envelope da Fundação José Saramago contendo os poemas de Saramago “dedicados a Dom Quixote, Sancho, Dulcinéia e Cervantes” também fazem parte do legado.
Finalmente foram depositados a última edição espanhola de "Levantado do Chão" e uma pasta com textos de Saramago sobre autores em espanhol, como Gabriel García Márquez, Júlio Cortázar, entre poutros, e também uma sobre Fernando Pessoa.
Em 23 de março último foi assinado em Lisboa um convénio de colaboração entre a Fundação José Saramago e o Instituto Cervantes que prevê que só em 25 de abril, hoje, fosse revelado o conteúdo que foi guardado neste cofre cultural e também a data em que poderá ser reaberta a gaveta de José Saramago na Caixa das Letras.
O acordo entre Pilar del Río, viúva de Saramago e tradutora das suas obras para espanhol, e García Montero reflecte o desejo de ambas as partes de "colaborar na promoção da divulgação da língua e da cultura, especialmente por ocasião da celebração deste centenário, simbolizando assim o início de uma relação frutuosa que une duas línguas e os seus milhões de falantes num projeto único em defesa da cultura".
O compromisso prevê também que o Instituto Cervantes (que também tem instalações em Lisboa) e a Fundação Saramago "podem planear e implementar programas de ação conjunta, especialmente relacionados com a promoção e divulgação da língua e cultura espanholas e portuguesas".
O escritor português José de Sousa Saramago, nascido na Azinhaga, Golegã, em 16 de novembro de 1922 e morto em Lanzarote, Espanha, em 18 de junho de 2010, foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998.
Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa, sendo Saramago considerado o principal responsável pelo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.
Marcelo Rebelo de Sousa continua na terça-feira a sua “agenda cultural” de dois dias em Espanha, com uma deslocação a Málaga (sul) onde irá à inauguração de uma exposição da pintora portuguesa Paula Rego, no Museu Picasso da cidade.
O Presidente da República também é hoje o convidado de honra de um jantar oferecido pela Câmara de Comércio Hispano-Portuguesa.