"As jaulas (para a produção de peixe) ficam mal não só na Ponta do Sol, mas em toda a ilha, porque vivemos muito do turismo", disse Leondina Rodrigues, proprietária de um alojamento local na costa oeste da ilha, que participou no protesto, organizado pelo movimento de cidadãos Plataforma AZIA.
A manifestação decorreu esta tarde no cais da vila da Ponta do Sol, para onde confluíram centenas de pessoas, residentes e não residentes e também alguns turistas.
"Vivemos muito do turismo e os senhores do Funchal devem pensar mais em arranjar postos de trabalho no turismo do que em destruí-los", sublinhou Leondina Rodrigues, sugerindo que as jaulas sejam colocadas no mar em frente da Quinta Vigia, sede da presidência do Governo Regional da Madeira.
"Enjaulados, sim, o Governo Regional" – esta foi uma das expressões de ordem proferidas pelos manifestantes, sendo que a organização reclama do executivo, de coligação PSD/CDS-PP, mais esclarecimentos sobre o projeto já aprovado para os mares da Ponta do Sol.
"Isto está a ser levado sem ter em conta a opinião da população", alertou Elisabete Andrade, da Plataforma AZIA, salientando: "Queremos esclarecimentos e queremos ver todos os documentos em cima da mesa."
"Até lá, somos não, somos contra", disse, falando ao megafone.
O projeto para a instalação de jaulas para a produção de peixe na Ponta do Sol decorre do Plano de Ordenamento para a Aquacultura Marinha da Região Autónoma (POAMAR), aprovado na anterior legislatura (2015-2019)
O secretário regional do Mar e Pescas, Teófilo Cunha, indicou recentemente que o executivo "mantém a decisão de continuar a apostar" no setor da aquacultura marinha, responsável por 30 postos de trabalho e uma produção anual de 1.000 toneladas de peixe, no valor de 5 milhões de euros.
Das cinco zonas criadas no âmbito do POAMAR, todas na costa sul da ilha da Madeira, há duas ainda sem atividade, localizadas entre os municípios da Ponta do Sol e Calheta, sendo que existe já um projeto aprovado para o primeiro concelho.
As câmaras municipais da Ponta do Sol, liderada pelo PS, e da Calheta, governada pelo PSD, têm manifestado reservas quando à instalação de jaulas para a produção de peixe na frente mar dos concelhos.
A autarca ponta-solense, Célia Pessegueiro, que hoje participou na manifestação no cais da vila, afirmou que "a Câmara mantém a posição contra", vincando que já o manifestou "diversas vezes".
"Aquilo que hoje quero aqui sublinhar é que a palavra está dada às pessoas, as pessoas exigiram ter direito à palavra e exigiram manifestar a sua posição e querem ser ouvidas", declarou.
O pescador amador António Andrade, que se encontrava entre os manifestantes, afirmou, por seu lado, que o peixe de aquacultura não passa de "bolas de sebo" e alertou para o fraco contributo da atividade em termos de criação de postos de trabalho, ao passo o impacto ambiental e visual é grande.
"Aquilo (as jaulas) fica feio a boiar no meio do mar e depois há a poluição provocada pela ração", realçou.
O mesmo alerta foi deixado por Silvano Rodrigues: "Sou contra as jaulas, primeiro pelo impacto ambiental e pela poluição das rações, depois porque sou pescador e defendo o peixe natural".
C/LUSA