Olivia Vicol, diretora do Work Rights Centre, revelou hoje numa conferência de imprensa que o volume triplicou desde março, enquanto Nicolas Hatton, cofundador da organização Settled, que presta apoio no processo, disse estarem a receber um e-mail a cada 10 minutos.
“Todas as diferentes instituições deste setor envolvidas estão sobrecarregadas”, afirmou Hatton, também cofundador do grupo the3million, num evento para jornalistas estrangeiros.
Ativistas dos direitos dos cidadãos europeus estão cada vez mais preocupados com o risco de muitas pessoas não conseguirem candidatar-se a tempo, mas também com o impacto da entrada em vigor do novo sistema.
A partir de 01 de julho o estatuto de residente será obrigatório para concorrer a um emprego, abrir uma conta bancária ou arrendar uma casa e aqueles que não estejam em situação regularizada serão considerados imigrantes ilegais e sujeitos a deportação para o país de origem.
No total, de acordo com estatísticas recentes, até 30 de abril foram feitas 5,42 milhões de candidaturas ao sistema de registo de cidadãos da UE pós-Brexit, superando os cerca de 3,5 milhões de europeus que inicialmente se estimava viverem no Reino Unido.
Cidadãos dos países da UE, da Islândia, Suíça, Noruega e Liechtenstein e respetivos têm até 30 de junho para efetuar o registo e manter os direitos de residência, trabalho e acesso a serviços de saúde, educação e apoios sociais.
Até ao final de março, o Governo britânico recebeu 376.440 candidaturas de portugueses e 359.070 foram concluídas, das quais 203.310 receberam o estatuto de residência permanente e 143.080 estatuto de residência provisória.
Olivia Vicol disse que muitas das pessoas que procuram a sua organização estão preocupadas com o registo de familiares, como parceiros, pais e filhos, com o impacto de uma ausência prolongada do Reino Unido por causa da pandemia covid-19 e com as dificuldades em ter acesso ao certificado digital.
"Parece-me muito injusto que o tipo de pessoa que mantém as cidades do Reino Unido em crescimento, trabalhando na construção e limpando os escritórios e casas de cidadãos britânicos, trabalhando na indústria de apoio social e restauração, tenha de passar nesta espécie de teste de literacia digital para provar o seu direito a viver e trabalhar no Reino Unido”, criticou.
Para demonstrar o certificado digital de residência, os europeus têm de aceder a uma página eletrónica do Ministério do Interior, inserir os seus dados e obter um código, que depois é partilhado com a entidade requerente, seja um empregador, senhorio, banco ou serviços sociais.
"O que é muito preocupante para mim é que [aqueles com dificuldades] nem sequer são os cidadãos mais vulneráveis, muitos deles falam bem inglês e têm acesso a um computador. Se essas pessoas têm dificuldade, só podemos imaginar as restantes”, vincou.
Nicolas Hatton reconheceu o sucesso do sistema de registo de cidadãos da UE [EU Settlement Scheme], ao processar mais de cinco milhões de candidaturas, mas receia que mesmo assim muitas pessoas fiquem excluídas ou vejam os seus direitos em risco.
“Seremos capazes de continuar a viver as nossas vidas como antes, como nos prometeram? Acho que esse será o verdadeiro teste, não é o sistema de registo”, disse, avisando que "a verdadeira história começa dentro de 23 dias”, a 01 de julho.