“A Rússia continua a raptar crianças a partir do território ucraniano e a providenciar a sua adoção ilegal por cidadãos russos”, declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) ucraniano num comunicado.
“Mais de 1.000 crianças de Mariupol”, uma cidade portuária do sudeste da Ucrânia caída nas mãos do exército russo, “foram ilegalmente dadas a estrangeiros em Tiumen, Irkutsk, Kemerovo e no distrito de Altaï”, na Sibéria, afirmou o MNE ucraniano, citando informações divulgadas pelas autoridades de Krasnodar, uma cidade do sudoeste da Rússia situada relativamente perto da fronteira com a Ucrânia.
Além disso, mais de 300 crianças ucranianas encontram-se em “estabelecimentos especializados” da região de Krasnodar, indicou o MNE na nota informativa.
Estes atos da Rússia constituem uma “grave violação da Convenção de Genebra” sobre a proteção de civis em tempo de guerra e da Convenção da ONU sobre os direitos das crianças, acusou o ministério.
“Todas as crianças ucranianas ilegalmente transportadas para território russo devem ser entregues aos pais ou aos seus tutores legais”, sublinhou.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro, Kiev acusa Moscovo de obrigar ucranianos, incluindo crianças, de zonas ocupadas pelas tropas russas a irem para a Rússia em vez de para outras regiões da Ucrânia – uma política comparada pelas autoridades ucranianas a “deportações”.
Várias famílias de Mariupol relataram à agência de notícias francesa AFP que foram obrigadas a ir para a Rússia contra a sua vontade, para fugir aos combates.
Essa cidade portuária estratégica no mar de Azov, com uma população de meio milhão de habitantes antes da guerra, foi atacada pelo exército russo nas primeiras horas da sua ofensiva.
Após semanas de cerco e bombardeamentos russos que fizeram pelo menos 20.000 mortos entre os seus habitantes, de acordo com as estimativas de Kiev, Mariupol ficou inteiramente sob o controlo das tropas de Moscovo.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.
Na guerra, que hoje entrou no seu 181.º dia, a ONU apresentou como confirmados 5.587 civis mortos e 7.890 feridos, sublinhando que os números reais são muito superiores e só serão conhecidos no final do conflito.