Dezenas de jovens imigrantes venezuelanos procuram refúgio e trabalho em comunidades indígenas na reserva de São Marcos, perto da cidade brasileira de Boa Vista, junto da fronteira com a Venezuela.
Em três aldeias da região – Boca da Mata, Sorocaima e Bananal – estão pelo menos 40 venezuelanos com idade entre os 18 e 30 anos, vivendo em casas temporárias e a trabalhar nas plantações ou em pequenas lojas da população indígena.
No Bananal, onde vivem cerca de 350 pessoas da etnia Taurepang que mantêm traços culturais ancestrais. E é aí onde os imigrantes recebem ajuda, trabalho e salário.
José Antonio Rodriguez, de 22 anos, chegou ao Brasil incentivado pelo irmão que já mora na cidade de Manaus, no estado do Amazonas, em busca de trabalho.
Ao chegar ao município fronteiriço de Paracaima, teve de dormir na rua e apenas recebia alimentos de uma organização religiosa uma vez por dia.
"Eu iria voltar para a Venezuela porque minha família me disse para voltar, mas vim para o Brasil para conseguir trabalho e decidi caminhar a pé até Boa Vista", num total de mais de 200 quilómetros, recorda.
No caminho, acabou por parar na comunidade indígena de Sorocaima, perto da Estrada BR-174, onde foi acolhido e aconselhado a procurar trabalho no Bananal.
A comunidade indígena de Bananal está distante da estrada e tem um acesso difícil, por uma estrada de terra batida no meio de uma serra.
"Vim para cá [Bananal] porque outros venezuelanos disseram que aqui havia trabalho. Cheguei e encontrei o senhor Lázaro”, disse, referindo-se ao líder da aldeia.
“Graças a Deus aqui [no Bananal] receberam os venezuelanos, apoiam-nos, ajudam-nos, dão-nos comida, pequenos trabalhos e algum dinheiro para enviarmos para a Venezuela", afirmou José Antonio Rodriguez.
Agora, quer poupar dinheiro e seguir até outros estados do Brasil, onde pensa retomar os estudos universitários de engenharia.
José Francisco Gonçalves, de 18 anos, teve uma trajetória semelhante: “Disseram-me que, chegando ao Brasil, iria encontrar trabalho. Chegando aqui seria uma coisa rápida, o que não era verdade. Já na fronteira do Brasil havia muita gente, era uma desordem. Muita insegurança, muitos venezuelanos roubando uns aos outros", contou.
Chegando a Sorocaima depois de uma caminhada de cinco horas, decidiu procurar trabalho na comunidade do Bananal.
"Aqui estou tranquilo, não estou passando necessidade nem dormindo no chão em Boa Vista. Aqui tenho trabalho e dinheiro", disse.
Já Maria Fernanda Hernandes, 20 anos, veio direta de Caracas para a aldeia, onde tinha familiares a viver.
"Comecei a estudar português lá em Caracas” e “agora vim para cá viver com meus tios. Desde de dezembro, vou e volto [do Brasil para a Venezuela]”, mas “quero estudar e trabalhar” no país que a acolheu, explicou.
"Estou aqui para trabalhar e seguir para a faculdade, penso em ir trabalhar em Pacaraima, Boa Vista para seguir depois até Manaus, saindo daqui [da região da fronteira] para seguir para o interior [do Brasil]", concluiu.
A crise social e económica atinge milhões de venezuelanos e muitos decidiram emigrar nos últimos meses.
A situação humanitária na zona fronteiriça do Brasil levou mesmo à intervenção de meios militares e de equipas internacionais para ajudar a acolher e encaminhas as dezenas de venezuelanos que procuram o país.
LUSA