Ao falar na abertura do diálogo de alto nível denominado "Fortalecimento da resiliência em nutrição e segurança alimentar no continente africano”, António Guterres reforçou que "os conflitos criam fome" e que a "crise climática amplifica o conflito", avaliando que estes são "problemas são sistémicos" e que "estão cada vez piores".
"Décadas de progresso no combate à fome estão a ser revertidas. Depois de melhorar de forma constante em todas as regiões entre 2000 e 2016, a fome aumentou acentuadamente nos últimos anos. Mais de 281 milhões de africanos – um em cada cinco – estavam subnutridos em 2020", alertou.
Guterres detalhou que 61 milhões de crianças africanas sofrem de atrasos no crescimento, o que pode afetar a sua saúde física e mental ao longo da vida.
"Como sempre, mulheres e meninas são as mais afetadas. Quando a comida é escassa, elas costumam ser as últimas a comer e as primeiras a serem retiradas da escola e forçadas a trabalhar ou casar", lamentou o ex-primeiro-ministro português.
Apesar da ajuda adicional de 30 milhões de dólares (28 milhões de euros) que anunciou na semana passada para necessidades urgentes de segurança alimentar e nutrição no Níger, Mali, Chade e Burkina Faso, Guterres frisou que o valor se trata de "uma gota no oceano" e que a ajuda humanitária não pode competir com os motores sistémicos da fome.
Além disso, o secretário-geral reforçou que choques externos estão a agravar a situação em África, referindo concretamente a guerra da Rússia na Ucrânia, que levou a um recorde dos preços dos alimentos, voltando a apelar para que as restrições à exportação de alimentos sejam levantadas, reservas estratégicas devem ser libertadas, e que excedentes sejam alocados aos países necessitados.
"Se trabalharmos juntos, se colocarmos as pessoas e o planeta antes do lucro, podemos transformar os sistemas alimentares, cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e não deixar ninguém para trás. Podemos acabar com a fome e a desnutrição até 2030", afirmou.
Guterres aproveitou ainda para referir a questão das alterações climáticas, observando que os agricultores africanos estão na linha de frente dos que mais sofrem com a situação, desde o aumento das temperaturas até as secas e inundações.
"África precisa de um grande impulso em apoio técnico e financeiro, para se adaptar ao impacto da emergência climática e fornecer eletricidade renovável em todo o continente. 50% do financiamento climático deve ser alocado para adaptação", defendeu.
"E os países desenvolvidos devem cumprir o seu compromisso de financiamento climático de 100 mil milhões de dólares (93,27 mil milhões de euros) para os países em desenvolvimento", sublinhou o secretário-geral das Nações Unidas.
Lusa