A mensagem de Guterres surgiu na sequência do anúncio feito pela alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Michelle Bachelet, de que não se recandidatará a um segundo mandato após 31 de agosto, num momento em que foi duramente criticada pela sua alegada falta de atuação numa recente visita à China.
"Sou profundamente grato a Michelle Bachelet pelo seu serviço incansável às Nações Unidas como alta-comissária para os Direitos Humanos. Desde os seus primeiros dias no Chile, com enorme sacrifício pessoal, ela esteve na linha de frente da luta pelos Direitos Humanos durante toda a sua vida", defendeu Guterres.
"Em tudo o que fez, Michelle Bachelet vive e respira direitos humanos. Ela moveu a agulha num contexto político extremamente desafiador – e ela fez uma diferença profunda para as pessoas ao redor do mundo", avaliou o secretário-geral, citado em comunicado.
O atual mandato de Bachelet foi recentemente ensombrado pelas críticas à sua resposta ao tratamento dado pela China aos uigures e outras minorias muçulmanas.
No início de junho, mais de 230 organizações de direitos humanos, incluindo portuguesas, exigiram a demissão de Bachelet, acusando-a de “branqueamento de atrocidades” durante a sua recente visita à China.
Para os ativistas, durante a deslocação Michelle Bachelet legitimou "a tentativa de Pequim de encobrir os seus crimes usando o falso enquadramento de ‘contraterrorismo’ do Governo chinês e referindo-se repetidamente aos campos de internamento pela designação do governo chinês: ‘Centros de Educação e Treino Profissional’ (CETP)”.
Os Governos ocidentais e as organizações não-governamentais (ONG) dos direitos humanos acusam a China de deter mais de um milhão de uigures e membros de outras minorias muçulmanas em campos de reeducação.
Os ativistas pediram ainda a António Guterres que não propusesse a renovação do mandato de Bachelet.
Contudo, Guterres disse hoje que a chilena "continua a ter todo o seu apoio".
"Sempre valorizarei a sua sabedoria, voz forte e sucesso em garantir que os direitos humanos sustentem as ações das Nações Unidas", concluiu o diplomata português.
O diretor executivo da Human Rights Watch afirmou que parte da culpa pela visita fracassada de Bachelet à China é de António Guterres, por ter aceitado previamente os termos impostos por Pequim para a visita da alta-comissária, quando esteve na capital chinesa por ocasião da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno.
Kenneth Roth declarou numa conferência de imprensa que a viagem de Bachelet à China, entre 23 e 28 de maio, "não poderia ter sido melhor para o Governo chinês, que se esforça para esconder as prisões em massa e os abusos em Xinjiang", território autónomo habitado por várias minorias étnicas, nomeadamente os uigures.