"Tinha vontade de fazer greve mas como sou segurança de um edifício que não se pode descuidar levantei-me cedo para ir trabalhar. Estava chuva e não consegui autocarro. Tive que trocar o dia com um companheiro", explicou um venezuelano à agência Lusa.
Casado, com um filho de 15 anos, Miguel Pereira, 40 anos, vive em La Vega, um populoso bairro pobre do oeste de Caracas, de onde viaja "dia sim e dia não" para o leste, onde trabalha 24 horas seguidas e depois descansa 24 horas.
"As coisas estão muito complicadas. O meu salário não chega para sustentar a família (mulher e filho) e por isso tenho que estar sempre pedindo emprestado. Já não sei o que é ir a um café, ao cinema ou à praia, porque tudo está muito caro. Qualquer descuido é suficiente para ficar sem dinheiro", explicou.
Miguel Pereira diz que ainda está em "choque" com a reconversão monetária que segunda-feira entrou em vigor no país e que eliminou cinco zeros ao bolívar para dar origem ao bolívar soberano.
"Dizem que alguns caixeiros eletrónicos [Multibanco] já estão a dar as novas notas mas ainda não tenho e só vou receber a quinzena (ordenado quinzenal) no fim do mês, ate lá vou ter que pagar o autocarro com as (notas) velhas. Hoje, passei junto de um quiosque e vi algumas coisas a preços de bolívar soberano e até pensei que estava a sonhar", disse.
Além de vazias, nas ruas de Caracas, muitas lojas comerciais estavam encerradas com dezenas de pessoas nas paragens à espera de autocarro.
Várias padarias, alguns supermercados e pequenos restaurantes estavam abertos.
Através da rede social Twitter muitas pessoas contaram que nos Estados de Carabobo, Lara, Nova Esparta e Táchira, a situação era semelhante à da capital.
Alguns comerciantes portugueses disseram à agência Lusa que ainda estão a alterar os preços dos produtos devido à reconversão monetária e acrescentaram que alguns empregados ainda não tinham chegado e que, "política à parte", nem sabiam se iriam ou não abrir as portas.
Na passada sexta-feira, o Presidente Nicolás Maduro anunciou o aumento, em 35 vezes, do salário mínimo dos venezuelanos, o aumento do preço da gasolina, equiparando-o aos preços praticados internacionalmente e a criação de um imposto às grandes transações financeiras, entre outras medidas.
O Governo diz que as medidas visam equilibrar a economia.
A oposição insiste que as medidas vão gerar mais inflação, reduzir o poder aquisitivo dos venezuelanos e levar ao encerramento de empresas, pelo que convocou para hoje uma greve geral de protesto.
Para hoje está prevista também uma marcha, em Caracas, de simpatizantes do “chavismo”, em apoio às medidas económicas anunciadas pelo Presidente Nicolás Maduro.
LUSA