A HRW pediu ao Tribunal Penal Internacional (TPI) e à Missão de Investigação de Factos da ONU para realizarem uma investigação à alegada ofensiva contra grupos rebeldes lançada em março pelo Governo do Presidente Nicolás Maduro.
O relatório da organização de direitos humanos norte-americana afirmou que a operação venezuelana "resultou na execução de pelo menos quatro camponeses, detenções arbitrárias, acusação de civis perante tribunais militares e tortura de residentes acusados de colaborar com grupos armados".
"As atrocidades cometidas contra habitantes de Apure não são incidentes isolados por agentes insubordinados, mas sim consistentes com abusos sistemáticos das forças de segurança de Maduro", disse o diretor da HRW para as Américas, José Miguel Vivanco.
As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) começaram a lutar no dia 21 de março em Apure contra grupos rebeldes, que a ONG Fundaredes descreveu como alegados dissidentes das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
As FANB declararam que a operação deixou oito soldados e nove “terroristas” mortos, bem como mais de 40 pessoas presas.
De acordo com a Fundaredes, a operação durou quase três semanas e deslocou mais de 6.000 venezuelanos para a Colômbia, na sua maioria para Arauquita, onde os abrigos se encontram sobrelotados.
A HRW concluiu que muitos dos detidos "não eram membros de grupos armados", mas sim da população local, após ter entrevistado 38 pessoas que tinham fugido de Apure, assim como 30 advogados, peritos forenses, líderes comunitários, jornalistas, autoridades colombianas e representantes de grupos humanitários.
A HRW avançou que as execuções acima mencionadas envolveram quatro camponeses da mesma família e que os seus corpos “foram encontrados a um quilómetro e meio de distância, em El Ripial, com cortes, ferimentos de bala e presumíveis deslocamentos ósseos”.
O relatório diz que as vítimas tinham armas na sua posse, que peritos forenses teorizam terem sido plantadas perto das suas mãos.
Um acordo de paz entre o Governo colombiano e as FARC em 2016 pôs fim a cinco décadas de guerra, no entanto o grupo sofreu divisões profundas, com alguns dos seus membros a juntarem-se aos principais movimentos de esquerda do país, enquanto outros desistiram do processo de paz e regressaram às armas.
A Colômbia e a Venezuela partilham cerca de 2.200 quilómetros de fronteira, mas não mantêm relações diplomáticas desde fevereiro de 2019, na sequência da decisão de Maduro de expulsar os diplomatas colombianos.
O Presidente da Colômbia, Ivan Duque, não reconhece Maduro como o Presidente legítimo da Venezuela, apoiando o líder da oposição Juan Guaidó.