“Este ano de 2022 já se espera que haja alguma retoma. Grande parte das touradas são as que estavam contratadas em 2020. Muitas das comissões mantiveram a sua palavra e o que estava contratado”, avançou, em declarações à Lusa, a presidente da Associação Regional de Criadores de Tourada à Corda, Sónia Ferreira.
Há touradas à corda em várias ilhas nos Açores, mas é sobretudo na ilha Terceira que têm maior expressão, realizando-se todos os anos mais de duas centenas de manifestações taurinas, com milhares de participantes.
Ao contrário das touradas de praça, as touradas à corda decorrem nas ruas, em percursos limitados por riscos e encerrados ao trânsito, com touros amarrados por cordas, não havendo cobrança de bilhetes ou controlo de entradas.
Durante a pandemia, os eventos foram desaconselhados pela Autoridade de Saúde Regional, que voltou a dar luz verde para que se realizassem no final da época de 2021.
O decreto legislativo regional que estabelece o regime jurídico de atividades sujeitas a licenciamento das câmaras municipais na Região Autónoma dos Açores só permitia a realização de touradas à corda entre 01 de maio e 15 de outubro.
O Parlamento açoriano aprovou, no entanto, um decreto que permitiu a realização excecional de touradas até 15 de novembro em 2021 e a antecipação da época de 2022 para a segunda-feira após a Páscoa.
As duas primeiras touradas à corda deste ano estão agendadas para sábado, uma no concelho de Angra do Heroísmo e outra no concelho da Praia da Vitória, estando previstas outras quatro até ao final do mês.
Segundo Sónia Ferreira, esta antecipação da época vai permitir que se realizem touradas já contratualizadas, sem interferir com o calendário tradicional das touradas à corda.
“Grande parte são touradas de abril foram as touradas que foram adquiridas pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e oferecidas às juntas de freguesia”, revelou.
Em 2020, o município pagou aos ganadeiros uma tourada por cada freguesia do concelho, para compensar a perda de rendimentos, com o compromisso de que só se realizariam quando a situação pandémica o permitisse.
A presidente da associação disse mesmo que os ganadeiros só conseguiram “sobreviver”, durante quase dois anos, sem rendimentos, graças aos apoios atribuídos pelo executivo açoriano e por alguns municípios.
“O Governo Regional deu apoio em 2020 e 2021. A Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e da Praia da Vitória deram apoio às ganadarias que em 2019 tiveram atividades nos seus concelhos e a Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa colaborou com os ganadeiros do seu concelho”, avançou.
Com o fim das restrições para conter a pandemia de covid-19, os ganadeiros esperam que a atividade regresse, este ano, ao normal, mas temem que a crise económica afete o setor.
“Claro que os tempos não são fáceis e esperamos que não haja reduções significativas de preços acordados. Infelizmente, nós sabemos que o que estava acordado em 2020 poderá agora para 2022 sofrer algumas alterações”, explicou Sónia Ferreira.
Ainda que o número de manifestações taurinas possa sofrer uma ligeira redução, este ano, a presidente da associação espera que a qualidade dos espetáculos não seja afetada.
“Eu acho que as touradas que eram tradicionais vão-se manter. Nas não tradicionais poderá haver alguma oscilação, que poderá alterar a quantidade de touradas. O principal não é tanto a quantidade, mas que se mantenha a qualidade das touradas que eram dadas anteriormente”, frisou.
Sónia Ferreira defendeu que a tradição não corre risco de desaparecer devido ao interregno provocado pela pandemia e deu como exemplo a “afluência do público” nas poucas touradas realizadas no ano passado.
“A tourada à corda é algo que nos identifica muito como povo. Socialmente, era algo que nós já ansiávamos. Ela tem um enquadramento na nossa vida e nas nossas festas, que toda a gente já ansiava”, sublinhou.
Lusa