As visitas iniciavam-se no primeiros dias de dezembro. A música era o mote, pois no grupo havia quem soubesse tocar instrumentos de corda ou acordeão. Corria a década de setenta do século XX quando os cantares de Natal animavam as noites de várias famílias, ainda que no espaço discreto da casa de cada um dos convivas.
Não eram mais de vinte, entre vozes, um velho acordeão e uma viola.
Quis um desencontro, uma visita falhada, levar este grupo à porta do Mercado dos Lavradores em 1986. Porque já na altura a tradição das compras de frutas, legumes e verdes na noite de 23 de dezembro atraia muita gente.
Nos primeiros anos, o grupo fazia questão de circular pelas ruas e cantar para os vendedores, aqueles que mais fruta ou legumes tinham expostos.
A adesão foi de tal ordem, que as cantorias passaram para o interior do mercado, o que enfureceu os comerciantes pois era tanta gente a querer participar que o negócio saia prejudicado.
De forma informal, o grupo passou a ser designado de Confraria dos Cantares.
Já em plena Praça do Peixe, passou a cantar músicas de Natal, do cancioneiro madeirense, das tradições religiosas, como são as canções nas missas do parto, sem ignorar as grandes canções de Natal cantadas por todo o mundo.
A Festa madeirense passa, obrigatoriamente, pelo Mercado dos Lavradores, para além das compras de frutas e legumes, com os cantares a levar a imagem do Natal do Funchal para milhões de pessoas em todo o mundo.
O Natal madeirense ganhou uma dimensão festiva e sobretudo uma notoriedade nunca antes alcançada, pois a Confraria de Cantares atrai à Praça do Peixe milhares de madeirenses e turistas, num momento muito emotivo.
O grupo conta hoje com sessenta elementos, com oito executantes, e junta três gerações de cantores, dos avós aos netos, que no final de novembro começam a ensaiar, com destaque para o hino ‘Somos um grupo de amigos’, sem esquecer canções de Natal em inglês, francês, espanhol, alemão e naturalmente em português.
Na Confraria dos Cantares não há músicos profissionais. Apenas amigos que partilham a paixão pela música e que gostam de assinalar juntos o Natal.
Saíram das suas casas e cantam nas escadarias da Praça do Peixe, levando a imagem do Funchal a uma dimensão inimaginável.