Pelas 07:00, Carmo Gonçalves juntamente com uma amiga e respetiva filha saíram de Vila Nova de Famalicão com destino ao Santuário de Fátima. “Sempre que podemos vamos a Fátima no 13 de maio. Este ano não será possível, pelo que antecipámos o dia e viemos hoje”, contam.
A fé e a devoção fê-las fazer cerca de 200 quilómetros para cada lado, para estarem no Santuário pouco mais do que uma hora e meia. “Viemos buscar paz, serenidade e força. Fizemos as nossas orações e vamos regressar. No dia 13 não estamos cá fisicamente, mas estaremos de coração.”
A peregrinação a pé programada para este ano fica adiada. “A decisão do Santuário foi a mais correta. Se não tivermos saúde, não poderemos vir no próximo ano.”
Estas três pessoas completavam um quadro de pouco mais de uma dezena de fiéis junto à Capelinha das Aparições esta manhã. O silêncio do espaço, sem qualquer celebração religiosa, era quebrado apenas pelos sinos da igreja.
As ruas de Fátima estão desertas. São poucos os cafés e restaurantes abertos. As lojas que se aventuraram a abrir portas garantem que não há clientes e os hotéis estão quase todos encerrados.
“Desde segunda-feira até hoje só atendi três clientes”, afirmou à Lusa Amália Reis. A funcionária de uma loja de artigos religiosos junto ao Santuário admitiu que, habitualmente, esta semana “é uma das mais fortes” do negócio.
Segundo referiu, no sábado que antecede o 12 e 13 de maio, as pessoas “costumam vir a Fátima e já há muito movimento”.
O Hotel Santa Maria tem a sua lotação a 2%, situação nunca antes vista. “Nesta altura, teríamos cerca de 90% de reservas”, admitiu o rececionista Nelson Pereira, explicando que os hotéis estão a colaborar uns com os outros e encaminham os clientes para as poucas unidades abertas, numa entreajuda.
Segundo Nelson Pereira, as reservas para agosto mantêm-se, mas o funcionário teme que as mesmas sejam canceladas. “Todas as reservas estão a ser canceladas um mês antes. Por exemplo, as pessoas estão a cancelar agora junho.”
Muitas lojas só hoje abriram portas, mas a expetativa é baixa. “Não há peregrinos, não haverá clientes”, constatou José Santos, funcionário de uma das pequenas lojas.
Uns metros mais à frente, Eduardo Gaio está sozinho entre as centenas de artigos religiosos. “Está bem complicado. Não se vê ninguém na rua, não há celebrações, não há clientes estrangeiros, não sei como vai ser”, afirmou o funcionário de outra loja, no seu sotaque brasileiro.
Eduardo Gaio salientou ainda que os principais clientes são os estrangeiros e “este ano não vêm”. “Ainda temos alguma expetativa. Se vendermos 100 euros por dia, sempre é alguma coisa. Vamos ter de nos adaptar a esta situação e a aprender a viver com isto, caso contrário vai tudo à falência.”
No café/restaurante de Ilda Duarte estão três pessoas. “São lojistas. Os nossos clientes são, sobretudo, as pessoas das lojas”, confessou, ao referir que a quebra foi “significativa”.
“Em março, as habituais 100 refeições servidas num sábado caíram para 40”, lembrou.
Agora, em serviço de ‘take away’, revelou que os clientes são os comerciantes. “Esta é uma zona de turismo religioso e, enquanto não começarem as missas presenciais, vai ser muito fraco”, acrescentou a sócia gerente.
O mesmo se passa na pastelaria, padaria e confeitaria de Maria Elisa. “Esta era uma altura muito boa, mas agora é o que se vê. As pessoas não podem vir a Fátima, não há clientes.”
O Santuário de Fátima vai este ano celebrar a Peregrinação Internacional Aniversária de maio no recinto de oração, como nos outros anos, mas sem a multidão de peregrinos que o costuma encher.
Entre a tarde do dia 12 e o fim da manhã do dia 13 não será permitido o acesso dos peregrinos a qualquer espaço do santuário.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 274 mil mortos e infetou mais de 3,9 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de 1,2 milhões de doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 1.126 pessoas das 27.406 confirmadas como infetadas, e há 2.499 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo Coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
C/Lusa