O combate à desinformação exige “colaboração”, defende o responsável pelo Google News Lab, sublinhando que “as plataformas não podem fazer tudo sozinhas” face a “um alvo em movimento”.
Em entrevista à Lusa, via telefone, David Dieudonné destaca que “a desinformação é um alvo em movimento, é sempre mais complicado, é sempre mais sofisticado”.
Neste quadro em que surgem constantemente “novos desafios”, diz, “cada peça do ‘puzzle’ tem de fazer a sua parte: as redações, os professores e, claro, as plataformas”.
A abordagem à desinformação – conceito que é mais indicado do que ‘fake news’, considera – tem de ser “multidimensional”, de diferentes ângulos. “A regulação é apenas uma peça da solução”, observa.
David Dieudonné menciona algumas iniciativas da Google que apoiam a verificação de factos, por exemplo a ‘factchecktag’ (etiqueta para as redações que têm equipas de verificação de factos).
Ao mesmo tempo, a Google tem investido em projetos como o Trust, que “tenta definir, juntamente com os media, as empresas e os académicos o que pode ser jornalismo de qualidade”, acrescenta, realçando que é preciso “equipar os utilizadores, nomeadamente os mais jovens, para que saibam reconhecer conteúdos de qualidade ‘online’”.
Por isso, a plataforma tem também “apoiado os esforços de literacia para os media em todo o mundo, tendo disponibilizado dez milhões de dólares no ano passado”, recorda.
Na segunda-feira foi anunciado um apoio à Associação Portuguesa de Imprensa para um “projeto destinado a promover a literacia dos media junto das comunidades mais vulneráveis, de norte a sul do país e regiões autónomas de Madeira e Açores”, segundo um comunicado da Google.
O projeto, financiado em 250 mil euros, propõe-se disponibilizar assinaturas de jornais a professores, para que os usem nas aulas, com os alunos, e levar os jornais também aos clubes, centros de dia e outras instituições de apoio aos idosos.
Na Google, “o combate contra a desinformação é levado muito a sério”, garante David Dieudonné. “Estamos a fazer muito: investimos dinheiro, temos engenheiros a trabalhar nisto, temos equipas no terreno a dar formação a jornalistas”, menciona.
Porém, frisa, “há certas decisões que não podem ser tomadas pelas plataformas, especialmente as que dizem respeito a avaliar a qualidade do jornalismo”. Por isso, explica, a Google tem trabalhado, em parceria, “com redações e universidades em todo o mundo para garantir melhor conteúdo”.
A plataforma tem tentado também “adaptar o produto a esta preocupação, nomeadamente os motores de busca, mas também o YouTube, por exemplo”, refere. “Há um trabalho que estamos a fazer para garantir que o nosso sistema reconheça um conteúdo do ponto de vista da autoridade e da relevância”, explicita.
Tudo isto sem nunca “suprimir conteúdo, isso seria censura". A Google prefere acrescentar "contexto para que os utilizadores fiquem mais bem informados”, contrapõe.
C/ LUSA