O Governo israelita tinha anunciado em outubro de 2021 ter colocado na sua lista de “organizações terroristas” seis ONG palestinianas na sua opinião relacionadas com a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), uma decisão criticada por organizações de defesa dos direitos humanos.
Na quarta-feira à noite, o ministro da Defesa israelita, Benny Gantz, aprovou tal decisão relativamente a três dessas organizações. E hoje de manhã, o exército israelita realizou buscas e encerrou os escritórios de sete ONG em Ramallah, sede da Autoridade Palestiniana na Cisjordânia, território palestiniano ocupado por Israel desde 1967.
Trata-se das seis ONG classificadas como terroristas em 2021 e da organização Health Work Committees, também ligada, segundo Israel, à FPLP, um movimento palestiniano de obediência marxista com um braço armado, muito mais fraco, no entanto, que os grupos islâmicos Hamas ou Jihad Islâmica.
Todas essas organizações negaram qualquer ligação à FPLP. No mês passado, nove países europeus, entre os quais a Alemanha e a França, tinham anunciado querer continuar a “cooperar” com as associações, na ausência de elementos de prova contra elas.
“A União Europeia continuará a apoiar as organizações da sociedade civil que têm um papel a desempenhar na promoção do direito internacional, dos direitos humanos e dos valores democráticos”, afirmou hoje Nabila Massrali, porta-voz do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, recordando que “acusações anteriores de desvio de fundos europeus não foram comprovadas”.
“Esta manhã, as forças de ocupação israelitas efetuaram buscas no escritório da al-Haq em Ramallah, confiscando objetos e barrando a entrada, cobrindo-a com uma placa de ferro, onde afixaram uma ordem militar declarando a organização ilegal”, indicou a associação, que arrancou a placa de metal para aceder às instalações.
“Qualquer atividade nestes escritórios ameaça a segurança neste setor, a dos soldados e a ordem pública”, pode ler-se nessa ordem, segundo a agência de notícias francesa AFP no local, que viu restos de granadas de gás lacrimogéneo espalhados no chão em frente aos escritórios da al-Haq.
As imagens das câmaras de vigilância de algumas ONG mostram soldados israelitas a apreender material informático nas respetivas instalações.
“Os soldados e a polícia fronteiriça realizaram uma operação durante a noite para encerrar instituições utilizadas pela FPLP (…) Os soldados fecharam sete organizações e confiscaram bens pertencentes a essas organizações terroristas”, indicou o exército israelita numcomunicado.
"Pedras e ‘cocktails’ Molotov” foram lançados contra forças israelitas que utilizaram “meios para dispersar a multidão”, afirmou o exército.
Durante esta operação, soldados israelitas entraram também, ocuparam e partiram vitrais da igreja anglicana St. Andrew, adjacente às instalações da ONG al-Haq.
“Pelas 03:00 da manhã (05:00 em Lisboa), começámos a ouvir tiros e pancadas na porta (…) duas horas depois, os soldados saíram e nós verificámos que eles tinham forçado a porta e entrado na igreja”, disse à AFP o reverendo Fadi Diab.
“A partir da igreja, eles [os soldados] entraram nas instalações da al-Haq”, acrescentou, declarando-se “indignado” com aquela incursão num local de culto.
O primeiro-ministro palestiniano, Mohammed Shtayyeh, deslocou-se hoje às instalações da al-Haq para “condenar a incursão totalmente injustificada em várias instituições palestinianas” e da igreja, declarou.
“Estas ONG respeitam as leis palestinianas (…) as afirmações israelitas sobre elas são infundadas. Nove países europeus também rejeitaram tais afirmações e fizeram saber que vão continuar a financiá-las”, sublinhou.
A ONG Addameer, para a qual trabalha o advogado franco-palestiniano Salah Hamouri, preso desde março por Israel, está entre aquelas que foram hoje alvo do exército israelita.
Preso no âmbito de uma polémica medida que permite a Israel encarcerar suspeitos sem acusação formal, Hamouri escreveu no mês passado ao Presidente da República francês, Emmanuel Macron, para lhe pedir para “exercer pressão” sobre o Governo israelita para exigir a sua libertação.
No início desta semana, a Human Rights Watch (HRW) apelou para a libertação de Hamouri, cuja situação, segundo a organização, é “emblemática da luta dos defensores palestinianos dos direitos humanos”.