José Carlos Martins falava à agência Lusa após mais de três horas de reunião de quatro sindicatos representativos dos enfermeiros (SEP, Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros, Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal e Sindicato dos Enfermeiros da Região Autónoma da Madeira), associações profissionais e movimentos de apoio, que decorreu na sede nacional da UGT, em Lisboa.
“É totalmente inqualificável porque andamos a protelar há uma série de meses e o argumento para o adiamento é que os dois ministérios [da Saúde e das Finanças] não se entendem relativamente àquilo que tem de ser a proposta do Governo”, frisou o sindicalista.
“O que estamos a exigir, e por isso vamos avançar para greves, manifestações e concentrações, é que o Governo se sente e nos apresente uma proposta que materialize os compromissos que subscreveu no pacote negocial com os sindicatos, que é de dignificar e valorizar os enfermeiros”, acrescentou.
José Carlos Martins considerou “estranho” que havendo uma reunião negocial marcada para hoje o Governo tenha adiado para 12 de outubro, a seguir ao primeiro período de dois dias de greve nacional. Esta plataforma de sindicatos tem também agendadas paralisações para 16 e 17 e 18 e 19 de outubro.
“É estranhíssimo e entendemos isso como o Governo pretender eventualmente fazer uma prova de fogo com os enfermeiros e vai tê-la, isto é, neste quadro os enfermeiros têm agora muitas mais razões para uma adesão maciça nos próximos dias de greve, para que, de facto, no dia 12 o Governo nos apresente uma proposta negocial que desemboque na negociação efetiva e que dê resposta às justas soluções que os enfermeiros anseiam”, reiterou.
Lúcia Oliveira Leite, da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE), vincou que perante “a passividade” do Governo, a maioria dos sindicatos está disposta a “chegar a formas extremadas” de reivindicação.
“O que estamos a propor é uma greve que tenha o maior impacto nos serviços e as orientações que estamos a dar aos enfermeiros é que com o mínimo de enfermeiros em greve haja o maior impacto, nomeadamente financeiro nas instituições e um maior impacto ao nível dos cuidados prestado”, disse à Lusa.
A sindicalista explicou que estão a pedir aos enfermeiros “que pratiquem os cuidados mínimos exigidos pelo Tribunal Arbitral e os que estão previstos no pré-aviso de greve e nem mais nada”.
“Estamos a pedir aos enfermeiros que pratiquem e que peçam à população, aos familiares dos doentes internados que os chamem para perto de si e que cuidem dos seus familiares, porque os enfermeiros estão de greve e não podem continuar a fazer de conta que não são precisos. O que está a acontecer é que as greves dos enfermeiros muitas vezes não têm o impacto que era esperado, porque o impacto da greve é nos serviços e têm dificuldade em deixarem as pessoas sem cuidados que não se integram nos cuidados mínimos”, esclareceu.
Segundo Lúcia Oliveira Leite, os sindicatos estão a pedir aos enfermeiros que “só pratiquem efetivamente os cuidados que são impreteríveis, que peçam ajuda à população para alimentar os seus doentes internados, para lhes prestar cuidados de higiene e conforto e que venham ajudar”.
“Os enfermeiros estão solidários com a população, mas não podem deixar que os desrespeitem a vida inteira”, concluiu.
O presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal, Carlos Ramalho, frisou igualmente que, “com esta atitude do Governo de adiar sucessivamente e de não dar resposta às solicitações, os enfermeiros estão a ficar demasiado nervosos e descontentes e com certeza que vão extremar as formas de luta”, opinião que é partilhada pelas estruturas sindicais da Madeira e dos Açores.
Os enfermeiros querem uma proposta que esteja de acordo com o compromisso [assumido pelo governo] no processo negocial do ano passado, a valorização e dignificação da carreira, valorização de remunerações e de especialistas e enfermeiros chefes.
LUSA