Ela foi acusada de deliberadamente ter feito mal a crianças recém-nascidas de diversas formas, incluindo injetando-lhes ar nas veias e enfiando ar ou leite nos seus estômagos através de sondas nasogástricas.
Foi também acusada de envenenar bebés ao adicionar insulina à alimentação intravenosa e interferir no sistema de entubação para respiração assistida.
Letby rejeitou todas as acusações.
Um júri composto por sete mulheres e quatro homens deliberou durante 22 dias antes de chegar a um veredicto. Um jurado foi dispensado por motivos pessoais quando as deliberações já iam adiantadas, e o juiz deu aos restantes jurados a opção de alcançarem um veredicto por maioria de dez pessoas, em vez de unanimidade.
A arguida foi considerada inocente de uma acusação de homicídio na forma tentada, e o júri não conseguiu chegar a um veredicto em várias outras.
Durante o longo julgamento, que começou em outubro do ano passado, os procuradores do ministério público indicaram que o hospital foi palco, em 2015, de um aumento significativo no número de bebés prematuros que morriam ou sofriam súbitas deteriorações do estado de saúde por nenhuma razão aparente. Alguns sofreram falências catastroficamente graves, mas sobreviveram com a ajuda da equipa médica.
Os procuradores alegaram que Lucy Letby estava de serviço em todos os casos e descreveram-na como uma constante presença maligna na unidade neonatal quando as crianças ficavam inconscientes ou morriam.
Precisaram que a enfermeira fazia mal aos bebés de formas que praticamente não deixavam vestígios e que ela persuadia os colegas de que os casos de falência e as mortes eram normais.
O primeiro bebé alegadamente vítima de Letby foi um menino prematuro que morreu com um dia de idade, em junho de 2015. A acusação alegou que a enfermeira lhe injetou ar na corrente sanguínea.
A polícia iniciou uma investigação às mortes de bebés no hospital em maio de 2017. Letby foi detida três vezes por relação com as mortes, antes de ser indiciada, em novembro de 2020.
Os procuradores relataram que foi encontrada na residência de Letby, quando esta foi detida em 2018, uma nota num – em que escreveu que era literalmente uma confissão.
O seu advogado de defesa, Ben Myers, sustentou que ela era uma enfermeira trabalhadora, dedicada e atenciosa que adorava a sua profissão e que não havia provas suficientes de que ela tivesse perpetrado qualquer dos alegados atos prejudiciais.
Argumentou igualmente que as súbitas falências orgânicas ou mortes dos bebés poderiam dever-se a causas naturais, ou a uma combinação com outros fatores, tais como falta de pessoal no hospital ou falha de outros em fornecer cuidados necessários.
O advogado de Letby alegou ainda que quatro médicos lhe atribuíram a culpa para encobrir falhas na unidade neonatal.
Lucy Letby depôs durante 14 dias, negando todas as acusações de ter intencionalmente feito mal a qualquer dos bebés.
Fiz sempre o meu melhor para cuidar deles, afirmou, acrescentando: Estou lá para cuidar, não para fazer mal.
Chorou, por vezes, e justificou a quantidade de registos médicos que tinha em casa sobre alguns dos bebés ao seu cuidado.
No entanto, no tal post-it verde, mostrado em tribunal, ela escrevera: Não mereço viver. Matei-os de propósito, porque não sou suficientemente boa para tratar deles. Sou uma pessoa má e horrível. EU SOU O MAL. EU FIZ ISTO.
O seu advogado defendeu que se tratava dos pensamentos angustiados de uma mulher que perdera a confiança em si mesma e se culpava pelo que acontecera naquela ala do hospital.
Uma nota diz não sou suficientemente boa, sublinhou Myers.
Para quem é que ela escreveu isto? Não foi para nós, para a polícia ou para este julgamento. É uma nota para si própria. Escreveu para si propria, insistiu.
Lusa