A iniciativa, marcada para a Praça da Liberdade, no Porto, surge após o alegado ataque de violência sexual por parte de um agente do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) contra uma brasileira que tentava chegar a Portugal como turista, mas não só.
“Não é um caso que acontece só no SEF, nem só com quem está a chegar a Portugal pela primeira vez. É uma violência quotidiana, muito comum, muito presente nas mulheres brasileiras em Portugal, e não só brasileiras”, disse Aline Rossi, coordenadora política da Coletiva Maria Felipa, que promove a ação.
“Isso tem um histórico, tem uma construção histórica em cima e é uma situação muito complexa, pode implicar violência sexual, assédio, dificuldade de acesso a serviços, nas ruas, no trabalho, na entrada no país” afirmou Rossi à Lusa.
A ativista explicou que o protesto de sábado é “contra a violação de uma mulher brasileira quando tentava entrar no país, mas também o reflexo de violências que acontecem diariamente com mulheres brasileiras em Portugal”.
E revelou que o aumento da emigração brasileira para Portugal, sobretudo nos últimos quatro anos, foi acompanhado de um aumento do “discurso xenófobo, que não é só contra brasileiros, que é reflexo de um acirramento político, de uma ascensão da extrema-direita na Europa e também em Portugal, com maior visibilidade do partido Chega, e outros muito próximos de grupos neofascistas, como o Mário Machado”.
“Amanhã é um basta a estas violências que acontecem diariamente, a um olhar que está muito enraizado na cultura, também por causa do passado colonial, de ver a mulher brasileira como um objeto sexual, um corpo público e uma mulher fácil. O estereotipo da mulher puta é uma coisa muito viva ainda hoje na cultura portuguesa”, prosseguiu.
E acrescentou: “Quando uma mulher brasileira sofre este tipo de violência [o alegado ataque no SEF], não é só quem ela é naquele momento, é de onde ela vem, o facto de ser brasileira e o que o imaginário português sobre uma mulher brasileira diz, que normalmente relaciona a imagem da mulher brasileira à puta. Tem a ver com o caso das mulheres/mães de Bragança, tem a ver com o passado colonial de exploração sexual e posse do corpo da mulher”.
Por esta razão, Aline Rossi acredita que o caso “não é uma coisa que vem da ascensão recente da extrema-direita e do discurso xenófobo, isso é só uma repaginação de uma cultura e de um pensamento que já estava lá há muito mais tempo e que simplesmente se manifesta nessas situações, porque nunca foi efetivamente de lá erradicado”.
A ativista lamentou que estas ideias se reflitam em dificuldades diárias em Portugal, sendo a mais flagrante a que estas mulheres registam para alugar uma casa.
“Todas nós temos um caso para contar, muitos nos fecham as portas”, refeiu, indicando que isso se deve porque julgam que, por serem brasileiras, iriam receber “clientes” nessa casa.
Em relação ao trabalho, a ativista explicou que o assédio muitas vezes não é denunciado, porque estas trabalhadoras ainda não estão com a situação totalmente resolvida a nível dos papéis e, por isso, os casos não são mais conhecidos.