"Veio-me ontem [quinta-feira] à mente que há muito mais jornalistas norte-americanos em Moscovo do que os nossos [nos Estados Unidos]. Os norte-americanos têm a simpática palavra ‘reciprocidade’ em que insistem em relação às ações russas", disse o diplomata à televisão estatal russa.
Antonov perguntou-se se não seria altura de agir reciprocamente e "reduzir o número de jornalistas norte-americanos que trabalham em Moscovo e, em geral, na Rússia”, para “equilibrar o número de [russos] que trabalham em Washington e em Nova Iorque".
As observações do embaixador surgem poucas semanas depois da detenção na Rússia, a 29 de março, do jornalista norte-americano Evan Gershkovich, correspondente do The Wall Street Journal, sob a acusação de espionagem.
"Os norte-americanos ameaçaram-nos com contramedidas se não libertarmos Gershkovich em breve", disse Antonov.
Quinta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou que o Presidente russo, Vladimir Putin, tivesse aprovado pessoalmente a detenção do jornalista norte-americano.
"Não, esta não é uma prerrogativa do presidente. É isto que os serviços de inteligência fazem, pois fazem o seu trabalho", disse Peskov numa conferência de imprensa, comentando relatos de meios de comunicação sociais ocidentais que davam conta de que o próprio Putin tinha dado ‘luz verde’ para a detenção.
Peskov aproveitou para reiterar que Gershkovich foi apanhado "em flagrante delito" pelo Serviço Federal de Segurança (FSB, antigo KGB).
Ainda quinta-feira, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Ryabkov, disse que Moscovo pode estar disponível para discutir uma eventual troca de prisioneiros com os Estados Unidos envolvendo Gershkovich, 31 anos, que, tal como a direção do jornal e a Administração norte-americana, negam qualquer envolvimento em atos de espionagem e exigem a libertação imediata.
Ryabkov, citado pela agência de notícias estatal Tass, indicou que as conversas sobre uma eventual troca de prisioneiros podem ocorrer através dos canais dedicados que as agências de segurança russas e norte-americanas estabeleceram para estes fins.
“Temos um canal de trabalho que foi usado no passado para alcançar acordos concretos, e esses acordos foram cumpridos”, lembrou Ryabkov, acrescentando que não há necessidade do envolvimento de nenhum terceiro país para mediar o conflito.
Ainda assim, o vice-ministro sublinhou que Moscovo apenas negociará uma possível troca de prisioneiros após um julgamento do jornalista, quando outros casos de espionagem duraram um ano ou mais.
Em dezembro, a estrela de basquete norte-americano Brittney Griner foi envolvida numa troca de prisioneiros pelo traficante de armas russo Viktor Bout, após ter sido julgada e condenada por posse de drogas.
Durante o caso Griner, o Kremlin pediu repetidamente aos Estados Unidos para que a Casa Branca se socorresse do “canal especial” para discutir uma solução, com troca de prisioneiros.
Gershkovich pode ter de cumprir até 20 anos de prisão, se for condenado.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, já pediu ao seu homólogo russo, Serguei Lavrov, para que liberte de imediato de Gershkovich.
Terça-feira, o Presidente dos EUA, Joe Biden, falou entretanto com os pais de Greshkovich, aproveitando para condenar de novo publicamente o comportamento das autoridades russas.
No dia anterior, a Administração de Biden disse que Gershkovich estava “detido injustamente”, uma designação que significa que um gabinete do Departamento de Estado irá assumir a liderança no processo de tentativa de libertação.
O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) deteve Gershkovich em Yekaterinburg, a quarta maior cidade da Rússia, a 29 de março.
O jornalista do Wall Street Journal é o primeiro correspondente norte-americano a ser detido na Rússia por alegada espionagem, desde o fim da Guerra Fria.
O FSB acusa Gershkovich de tentar obter informações classificadas sobre uma fábrica de armas russa.
Gershkovich está detido na prisão de Lefortovo, em Moscovo.
Lusa