Os jornalistas terão, porém, de pagar uma multa de 10.000 euros (inicialmente estava pedido o pagamento de 15.000 euros).
A decisão, decretada pelo Tribunal Penal de Paris, vai ser alvo de recurso, com os advogados dos jornalistas a defenderem que os seus clientes nunca tentaram chantagear Mohammed VI, embora tenham reconhecido terem cometido um "erro ético" ao aceitar uma proposta de acordo financeiro de Rabat.
Já autores em 2012 de um livro sobre Mohammed VI, intitulado “O Rei Predatório”, Eric Laurent e Catherine Graciet tinham assinado um contrato com a editora Le Seuil para um segundo volume sobre o mesmo assunto.
No verão de 2015, Eric Laurent, ex-jornalista da Radio France e do Le Figaro Magazine, autor de vários livros, terá contactado a secretaria particular do monarca marroquino para marcar uma reunião num palácio parisiense, o que aconteceu a 11 de agosto desse ano, na presença do advogado Hicham Naciri, emissário do reino.
Após essa primeira reunião, Marrocos apresentou uma queixa em Paris e foi aberta uma investigação, após o que se seguiram dois outros encontros, realizados sob vigilância policial, a 21 e 27 do mesmo mês, sem que os jornalistas soubessem que estavam a ser ouvidos.
Catherine Graciet, autora de livros sobre o Magrebe e sobre a Líbia, esteve presente apenas no terceiro encontro, durante o qual os dois jornalistas assinaram um acordo financeiro de dois milhões de euros para abandonar o livro.
No final, foram detidos com dois envelopes, cada um contendo 40.000 euros em dinheiro.
Para o Tribunal Penal de Paris, os dois jornalistas tinham uma “abordagem comum” e exerceram “pressão” sobre o emissário ao falar, entre outras coisas, de um livro que seria “devastador” para o Reino de Marrocos.
Segundo a sentença, "o preço do silêncio, correspondente à não publicação do livro, não vem só dos dois jornalistas, mas também do valor fixado” para evitar a saída do livro para as livrarias.
As três reuniões foram secretamente gravadas pelo emissário de Mohammed VI, que entregou cópias aos investigadores.
Consideradas ilegais pela defesa, as gravações estavam no centro de uma batalha processual e o Tribunal de Cassação acabou por rejeitar os recursos dos jornalistas em novembro de 2017.
As gravações e as respetivas transcrições foram objeto de um acalorado debate durante o julgamento iniciado a 17 de janeiro passado, em que o Ministério Público acabou por pedir uma pena de prisão suspensa de um ano e uma multa de 15.000 euros, que viria a baixar para 10.000 euros.
Lusa