Os dados, que serão apresentados este fim de semana no Congresso da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e que analisaram o impacto da pandemia de covid-19 na Via Verde Coronária, indicam que em maio de 2016 o doente demorava 100 minutos a chamar os meios de emergência e entre março e maio do ano passado esse intervalo passou para duas horas (120 minutos).
“Os dados mostram que a perceção que tínhamos de que os doentes estavam a vir mais tarde, e em piores condições, se confirma”, disse o cardiologista Hélder Pereira, que falou à Lusa na véspera de apresentar os dados e no arranque no Mês do Coração, que se assinala sempre em maio.
O especialista, diretor do Serviço de Cardiologia do Hospital Garcia de Orta, em Almada, que faz igualmente parte do movimento Stent For Life, que visa salvar vidas através da melhoria do tratamento às vítimas de enfarte, explicou que os dados foram recolhidos junto dos centros onde se realiza angioplastia primária (para desbloquear artérias).
Depois de em 2011 a Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC) e a Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) terem integrado a iniciativa Stent for Life, todos os anos em maio (até 2016) foram medidos estes e outros indicadores para perceber a evolução da assistência ao doente nestas circunstâncias.
Segundo contou à Lusa, no mês de maio de 2016, o tempo entre o doente pedir ajuda e estar a ser intervencionado (artéria aberta/desentupida por angioplastia primária) era de 134 minutos e, no ano passado (março/maio), passou para 151 minutos.
“Claro que isto tem consequências: quanto mais tarde se trata o doente maior é a mortalidade e morbilidade no enfarte”, sublinhou.
Helder Pereira explicou ainda que os dados da APIC e a Associação de Intervenção Cardiovascular da SPC, com base no registo nacional, apontam para uma redução de 25% de doentes tratados no período da pandemia do ano passado, comparando com o período homólogo.
C/Lusa