Ao todo são mais de 4.500 (cerca de 4.675, para maior exatidão) os casos de Covid-19 no país que não estão surgem na lista de concelhos, ou por pertencerem a concelhos com menos de três casos ou por não estarem alocados a nenhum concelho.
Onde foram os outros 4.675 casos?
Os concelhos com um ou dois casos eram apenas 55, pelo que continuavam por explicar, no mínimo, 4.550 casos do novo coronavírus – isto retirando que cada concelho que não surge no boletim tem dois infetados, o que parece improvável.
Se todos os casos de concelho desconhecido estivessem concentrados num só município, seria o mais infetado pela Covid-19 em Portugal, uma vez que o concelho com mais casos confirmados do país, Lisboa, tinha até esta segunda-feira 4.240 casos.
Olhando por regiões e onde estão a faltar estes casos, podemos ver que ficam por explicar casos em todas as regiões. Em Lisboa e Vale do Tejo, por exemplo, à data de 20 de julho, altura em que foram atualizados os casos de covid-19 em concelhos, Lisboa e Vale do Tejo registava 24.369 casos, mas a soma dos concelhos presentes na lista revela apenas cerca de 21.800.
Trata-se de uma diferença de mais de 2.500 casos que não estão atribuídos a qualquer município, uma vez que em Lisboa e Vale do Tejo existem apenas dois concelhos que não surgem na lista e, por isso, têm menos de três casos de covid-19: Constância e Ferreira do Zêzere.
O mesmo acontece nos casos do Norte (que registava 18.356 casos a 14 de julho, mas apenas cerca de 16.700 casos estavam alocados a concelhos, faltando alocar mais de 1.500), do Centro (que registava 4.361, mas apenas cerca de 4.001 em concelhos), do Alentejo (que registava 635 casos mas apenas cerca de 550 em concelhos), o Algarve (que registava 709 mas apenas cerca de 700 em concelhos), os Açores (que tinham 152 casos mas registavam apenas cerca de 110 em concelhos) e a Madeira (que registava 102 casos mas apenas 96 em concelhos).
Em todas as regiões, umas mais que outras, a percentagem de casos em que o concelho é desconhecido ronda os 10%.
Duplicação de casos no Porto em março levou a concentração dos infetados por concelho no SINAVE
A 30 de março, a cidade do Porto registou 941 casos, um aumento de 524 casos em relação ao dia anterior – quando o país inteiro apenas tinha registado 446 casos. Havia um erro, uma duplicação de casos que se deveu ao registo simultâneo de casos por médicos através do SINAVE e da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte à DGS.
Na conferência de imprensa do dia seguinte, a 31 de março, o subdiretor-geral de Saúde, Diogo Cruz, reconheceu a "tentativa de tentar dar o maior número de dados possíveis" e confirmou a duplicação na contagem de casos de covid-19 no Porto.
Desde esse dia, e para resolver o problema de possíveis duplicações de dados, a DGS deixou de utilizar os dados reportados por Administrações Regionais de Saúde e Regiões Autónomas e passou a concentrar o registo de casos no SINAVE – o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica. Quanto ao número de casos confirmados no Porto nesse dia 30 de março, nunca chegou a existir atualização nos boletins seguintes.
Na altura, Diogo Cruz alertou que passariam a não existir dados completos sobre a distribuição geográfica dos casos de Covid-19 em Portugal: "Vamos ter, eventualmente, alguns dados em falta que não estejam no SINAVE". Em resposta à SÁBADO, a DGS explica que, na lista de concelhos apresentada no boletim, estão apenas contadas as notificações médicas no SINAVE e não as notificações de casos confirmados em laboratórios externos e acrescenta ainda que a escolha dos dados do SINAVE tinha recaído por estes serem a fonte mais credível de registo de informação, evitando assim a sobreposição de dados relativos à Covid-19.
A cada relatório de situação da epidemia da Covid-19 em Portugal, a DGS especificava até então a percentagem de casos presentes na lista de concelhos, referentes ao sistema SINAVE. Mas, a partir do relatório do dia 1 de junho, deixou de o fazer.
Agora, os relatórios diários referem apenas que a lista "pode não corresponder à totalidade dos casos por concelho", mas, em resposta à SÁBADO, a DGS não conseguiu precisar o porquê da percentagem de casos apurados pelo SINAVE na lista de concelhos ter sido retirada dos boletins diários.
Na altura, a 1 de junho, era indicado que, na lista de concelhos, estavam apenas apresentados 91% dos casos confirmados no país – sensivelmente a mesma percentagem apurada pela SÁBADO através do relatório desta segunda-feira.
A explicação para esta falta de dados não prejudica os dados nacionais, que continuam corretos, mas é explicada pelo modo de funcionar do SINAVE, em que médicos notificam um caso e este fica, automaticamente, registado na região onde é feita a notificação do infetado – o que não quer dizer que seja exatamente onde este more. Também é por isso que os dados divulgados diariamente pela Direção-Geral de Saúde não batem certo com os divulgados por autarquias de cada concelho. A percentagem que era disponibilizada na lista de concelhos e outras estatísticas do boletim vai sendo sempre atualizada gradualmente, mas os dados mais recentes passam sempre por um maior período de escrutínio, para evitar duplicação de casos."