Em declarações à agência Lusa, Luis Oliveira, do Departamento de Física do ISEP, explicou hoje que o pigmento, designado lipofuscina, foi observado durante a avaliação das propriedades óticas de tecidos da mucosa colorretal saudáveis e com cancro.
“Verificamos que o conteúdo de sangue nos dois tipos de tecidos não correspondia ao espetável. As propriedades mostravam que havia muito baixo conteúdo de sangue e isso levantou uma suspeita, nomeadamente que poderia existir algum tipo de componente biológico contido nos tecidos que estava a camuflar o verdadeiro conteúdo de sangue e que era o pigmento”, afirmou.
Para avaliarem o verdadeiro conteúdo de sangue nos tecidos, os investigadores decidiram estudar “o espetro ótico de absorção da lipofuscina”, subtraindo a absorção do pigmento à absorção medida dos tecidos.
“A acumulação da lipofuscina é superior nos tecidos com cancro do que nos tecidos saudáveis”, referiu Luis Oliveira, acrescentando que a acumulação do pigmento “cresce com o desenvolvimento dos pólipos cancerígenos”.
“O conteúdo do pigmento vai crescendo conforme o cancro se vai desenvolvendo”, afirmou o investigador, indicando que esta técnica não invasiva permitirá usar a lipofuscina como parâmetro “não só de diagnóstico do cancro colorretal, mas também de monitorização da evolução do cancro nos tecidos da mucosa”.
À Lusa, Luis Oliveira adiantou que o próximo objetivo da equipa é estudar "em detalhe" as diferentes fases do cancro colorretal para “avaliar os conteúdos discriminados do pigmento”.
“Estamos crentes e suspeitamos que este pigmento se acumula também em diferentes tipos de cancro”, disse o investigador, acrescentando que a equipa submeteu uma candidatura à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) para estudar o cancro do fígado e do rim.
A investigação, já publicada, foi desenvolvida em parceria com o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto e com a Universidade Estatal de Saratov, na Rússia.
Entretanto, os investigadores já submeteram um segundo artigo sobre o mesmo tema a publicação na revista American Institute of Physics, assente em “medições que simulam uma situação não invasiva e na qual são aplicadas técnicas de ‘machine learning’ para reconstruir o espetro de absorção”.
“Este é o primeiro passo no sentido de desenvolver uma técnica que possa ser aplicada ao doente sem se retirar os tecidos”, afirmou o investigador.