"Se tudo correr bem, vamos ter revolução atrás de revolução. Vamos descobrir as galáxias mais distantes de sempre", afirmou à Lusa o astrofísico português, a trabalhar no Reino Unido, acrescentando que o novo telescópio, com lançamento previsto para sexta-feira, "vai mostrar detalhes que até hoje apenas eram possíveis em simulações de computadores ou em obras artísticas".
David Sobral esteve à frente da equipa internacional que em 2015 anunciou ao mundo a descoberta da galáxia mais brilhante dos primórdios do Universo, a CR7, e de sinais das primeiras estrelas, quando o Universo tinha 800 milhões de anos (a idade do Universo estimada pela teoria do Big Bang é 13,8 mil milhões de anos).
A descoberta foi feita graças a vários telescópios no solo e ao telescópio espacial Hubble, na órbita terrestre há 31 anos.
Agora, o astrofísico português, que leciona na universidade britânica de Lancaster, integra duas equipas que pretendem com o James Webb "obter alguns dos dados mais profundos", e também os primeiros, para "medir a taxa de formação estelar no Universo primordial da forma mais completa até hoje", incluindo o que chama de "PIB cósmico".
"Com o Webb vamos finalmente ter a melhor medição da quantidade de estrelas que se formavam no Universo numa altura de grande ‘crescimento económico’ no Universo", disse, assinalando que "nos primeiros dois mil milhões de anos de vida do Universo a atividade de formação estelar devia ser cada vez mais alta à medida que o tempo passava, até a um pico há 11 mil milhões de anos".
Para cumprir o que se propõem fazer, David Sobral e os colegas vão utilizar o James Webb durante mais de 40 horas no primeiro ano de observações científicas do telescópio, que deverão iniciar-se seis meses após o seu envio para o espaço.
O Webb há de revelar as primeiras galáxias e estrelas, mas também planetas extrassolares e buracos negros tanto distantes como próximos.
"É o telescópio mais caro e ambicioso de sempre, que vai abrir janelas completamente novas" sobre o Universo, acentuou o investigador, acrescentando que o James Webb vai permitir "saber mais sobre que tipo de estrelas ou buracos negros existiam em galáxias quando eram incrivelmente jovens".
A "grande limitação" do novo telescópio, ressalva, é que foi concebido para funcionar durante cinco a dez anos, menos de metade da longevidade do Hubble.
Dada a distância a que o James Webb estará da Terra não será possível aos astronautas fazerem a sua manutenção ou quaisquer melhoramentos, ao contrário do que sucedeu com o "velhinho" telescópio.