“Nenhuma organização pode afirmar que valoriza a igualdade ou a diversidade a não ser que vozes gagas sejam nela permitidas e valorizadas”, é referido no documento subscrito por 70 associações de 35 países, a propósito do Dia Internacional de Consciencialização para a Gaguez, que se assinala sábado.
Na Declaração pelo Direito a Gaguejar é sublinhado que, “neste tempo de diversidade, muitas vezes não são concedidos os necessários ajustes àqueles que gaguejam, seja no trabalho, na educação ou no acesso aos serviços do dia-a-dia”.
“Não é razoável esperar ou insistir que sejamos fluentes. Nós gaguejamos. É assim que falamos”, acentua o documento.
Em Portugal, onde se estima existirem cerca de cem mil pessoas com gaguez, a iniciativa é apresentada no sábado, na Figueira da Foz, onde a Associação Portuguesa de Gagos (APG) realiza as Jornadas 2.0, evento de debate e reflexão sobre a gaguez “e o ativismo na gaguez”.
Nas jornadas está confirmada a presença dos deputados Maria João Castro, do PS, de Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal, e da ex-deputada Joacine Katar Moreira.
“A Declaração pelo Direito a Gaguejar é um instrumento fundamental para aumentar a consciencialização da sociedade e afirmar o nosso direito de sermos ouvidos, de sermos vistos, de participar – para alcançar todo o nosso potencial como seres humanos dignos e realizados”, salienta a APG, num comunicado enviado à agência Lusa.
A APG considera que a gaguez “é geralmente esquecida quando se fala de temas como diversidade e inclusão”.
Na mesma nota, o organismo vincou que o maior problema com que os associados se deparam não é a dificuldade em dizer “esta ou aquela palavra”, mas sim as barreiras que encontram em atitudes e “estereótipos desonestos, causadores de vergonha e ansiedade social”.
A APG explicou que a gaguez é variável e que um gago “pode gaguejar muito ou pouco em diferentes dias e horas”.
“Em certas situações, até um fluente gaguejar ocasionalmente leva a que se veja injustamente a gaguez como uma condição que é culpa da pessoa gaga”, denunciou a associação, alertando que a terapia da fala não garante melhoria da fluência e que “eventuais ganhos de fluência em ambiente clínico nem sempre perduram no longo prazo em ambiente real”.
A APG acrescenta, na mesma nota, que “apresentar a gaguez como um tabu faz com que se gagueje mais” e advertiu terapeutas e gagos a concentrarem-se não tanto na fluência, “mas na aceitação pessoal”, tendo como objetivo “uma melhor qualidade de vida”.
“A fluência na vida diária não pode, portanto, ser imposta, especialmente por um empregador”, alertou o organismo, advogando a necessidade de locais de trabalho inclusivos.
A APG preconiza, como princípio fundamental, “a dignidade inquestionável da pessoa gaga, e a gaguez como uma forma de comunicação de pleno direito”.
“Temos uma voz e temos o direito de fazer com que essa voz seja ouvida”, reforçou a entidade, com o foco na sensibilização para esta temática.