Em declarações aos jornalistas depois de participar numa celebração religiosa na Mesquita Central de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a dirigir um apelo especial aos mais jovens para que pensem que "um terço da população portuguesa é de risco", entre pessoas idosas ou com problemas de saúde.
"Até para pensarem no seguinte: nós precisamos de solidificar a imagem cá dentro e lá fora de que este processo é irreversível, não vai conhecer recuos, não levanta dúvidas e objeções, para querermos ter turismo, investimento, para querermos ter pessoas que possam vir e circular cá dentro e lá fora", salientou.
O chefe de Estado alertou que se Portugal continuar a ter "picos de infetados", apesar de não se traduzirem em aumento de internados ou de pessoas nos cuidados intensivos, fica "uma imagem que não dá segurança cá dentro e permite lá fora formular juízos que não correspondem ao que tem sido conseguido até agora".
"É uma questão de bom senso, de não passar do 8 para o 80. É passar do 8 para 16, depois para 24, depois para 48 e por aí adiante até chegar aos 80", afirmou.
Questionado sobre a possibilidade, admitida pela ministra da Modernização do Estado e da Administração Publica Alexandra Leitão, de não haver aumentos salariais na função pública em 2021 ou até de congelamento de carreiras, o chefe de Estado escusou-se a comentar para já esses temas.
"Eu não gostava de estar a comentar esta matéria neste momento, primeiro pelo local em que em encontro, pelo significado que tem a minha presença aqui e também porque isso terá de ser ponderado no quadro do orçamento suplementar, que ainda está a ser preparado", disse.
Numa entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, Alexandra Leitão disse que não espera que, no quadro da pandemia de covid-19, haja uma política de redução de rendimentos.
Quanto a um eventual congelamento das progressões de carreira na Administração Pública afirmou que é uma questão que "não está em cima da mesa", mas admitiu que essa possibilidade depende do evoluir da situação económica e não pode ser excluída "liminarmente".
Alexandra Leitão assumiu também que não pode garantir que seja possível manter o compromisso do aumento salarial de 1% para a função pública previsto para 2021.
Marcelo Rebelo de Sousa foi hoje de manhã à missa de Pentecostes na Sé de Lisboa e à tarde participou numa oração com a comunidade islâmica na Mesquita Central de Lisboa.
"Este fim de semana marca o início das cerimónias religiosas coletivas públicas, nomeadamente nos lugares de culto e nesse sentido, simbolicamente, aqui estou também", justificou, reiterando o elogio à forma como as várias confissões religiosas sacrificaram as celebrações coletivas durante quase três meses.
No caso da comunidade islâmica, salientou, estas restrições coincidiram com o período do Ramadão, "um período da fé islâmica que supõe normalmente o encontro, uma dimensão coletiva".
"Todas essas privações têm um mérito enorme. Como Presidente da República de todos os portugueses queria agradecer nestas duas comunidades o que sei que foi vivido por todas", disse, considerando que o exemplo deste setor deveria ser seguido por todos.
Tal como já tinha feito hoje de manhã, Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu um apelo especial aos jovens.
"Sabendo nós que os mais novos nem sempre gostam de ouvir opiniões dos mais velhos. Se pudessem pensar um pouco no risco que há em excessos de confraternização, com dezenas ou centenas de pessoas sem preocupações de natureza sanitária, num país que em temos mais de um terço dos portugueses em grupos de risco", alertou.
O chefe de Estado considerou que nas próximas semanas – "esperemos que não muitas", disse – "alguma moderação da parte dos mais jovens seria bem-vinda".
"Eu, que não sou defensor de radicalismo sanitário, [acho que] também não se pode cair no outro extremo que é o facilitismo", defendeu, alertando que seria "pouco inteligente" perder tudo o que foi alcançado "por insensatez ou precipitação".
Questionado sobre como se explica o agravamento dos números da pandemia da covid-19 na Grande Lisboa, o Presidente da República atribuiu-os à maior concentração populacional numa zona onde vivem "milhões de pessoas" e fez questão de separar dois tipos de situações.
"Há uma realidade que são as pessoas que trabalham: trabalhadores precários deslocados das suas origens, que trabalham ou se deslocam em condições que propiciam o contágio. Outra é o clima que tenho testemunhado que é o à vontade com que os jovens, achando que não têm risco pessoal, começam a viver esta fase, como se não se tivesse vivido tudo o que se viveu", reforçou.
Em Portugal, morreram 1.410 pessoas das 32.500 confirmadas como infetadas, e há 19.409 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
C/Lusa