Foi possível falar, 06 a 09 meses depois, com 62% destes doentes identificados desde o primeiro dia da infeção até 18 de maio, disse Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto,
Quando lhes foi questionado qual foi o maior desafio que sentiram depois da infeção, afirmaram que foi o isolamento, foi o ultrapassar da doença, foi o afastamento da família, a ansiedade, além dos problemas relacionados com incerteza do futuro e as dificuldades financeiras.
“Isso significa que as pessoas valorizam a doença e têm medo da doença. Tinham medo da morte, tinham medo de infetar os outros e tinham medo das sequelas e as sequelas existem”, salientou o investigador.
À pergunta se desde o período em que foi considerado recuperado o doente continuou a sentir-se afetado por problemas de saúde, pelo menos, 60% disseram manter problemas numa proporção muito alta.
“Queixas de depressão, cefaleias, tonturas, palpitações e as conhecidas alterações do olfato e do paladar mantêm-se durante muito tempo e afetavam praticamente 18% destas quase 1.200 pessoas que inquirimos”.
Por último, foi perguntado se desde o início da infeção – e estes doentes eram praticamente todos sintomáticos porque na altura não se faziam testes a assintomáticos – quantos dias esteve com sintomas e quando eles “finalmente apareceram”.
O estudo concluiu que “cerca de 25% a 30% das pessoas mantêm sintomas para lá dos oito, nove meses. Isto é, o covid-19 transforma-se se numa doença crónica”, disse Henrique Barros.
“Um pouco mais no sexo feminino do masculino, um pouco mais nas idades intermédias do que nas idades extremas”, referiu.
O epidemiologista alertou que vão encontrar-se muitas pessoas com sintomas no futuro que nunca souberam que estiveram infetadas.
“Se não lhe fizermos, por exemplo, o teste de anticorpos não vamos saber que ela tem essa história no seu passado. Por isso eu atrevo-me a dizer que é preciso manter estes milhares e milhares de pessoas sob observação”, defendeu.
Por outro lado, “os serviços de saúde têm que as considerar como consideram os doentes não-covid, porque já não têm essa infeção, mas a infeção foi um gatilho de um problema que vai afetar muita gente no futuro.
“E se isso significa que temos que estar muito atentos e muito seguros na prevenção da infeção, também significa que temos que estar muito atentos e muito seguros no acompanhamento das pessoas e na atenção às pessoas”, declarou.
Alertou ainda que quando se estão a observar 10 mil casos por dia provavelmente estarão a ocorrer 30 mil, defendendo que é preciso continuar “a fazer muitos testes fazer, o mais possível”.