A 16 de março, duas semanas depois de o primeiro caso em Portugal ter sido confirmado, um homem de 80 anos internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, morreu vítima do novo coronavírus, indicando a tendência que marca a mortalidade associada à covid-19.
Idoso, “com várias patologias associadas”, como referiu na altura a ministra da Saúde, Marta Temido, foi uma descrição que se repetiu em mais de 85% das mortes provocadas pela pandemia em Portugal.
No dia a seguir, mais uma pessoa morreu. Outra no dia seguinte. Depois, a 20 de março, o número duplicou para seis. No dia seguinte, voltou a duplicar.
O pico de número de mortos no espaço de 24 horas foi atingido em 03 de abril, quando morreram 37 pessoas. Na passada sexta-feira, dia 12 de junho, morreu uma pessoa, número que não se verificava desde o dia 19 de março.
A pandemia mudou a relação dos portugueses com os seus mortos, tivessem ou não morrido de covid-19.
As medidas de distanciamento impostas logo em meados de março e consolidadas com a declaração do estado de emergência acabaram com os velórios e impuseram o máximo de dez pessoas por funeral e caixões fechados quando houvesse confirmação de covid-19 como causa da morte.
Em alguns, casos, como referiram agentes funerários ouvidos pela Lusa em abril, houve pessoas que foram sepultados “como indigentes”, apenas com a presença dos funcionários das agências, no caso de os familiares terem fatores de risco acrescido que os impedissem de estar no funeral.
Em Portugal e por todo o mundo, as restrições ao contacto com as pessoas infetadas e ao acesso aos hospitais levou a que milhares de pessoas se vissem privadas da oportunidade de se despedir dos que morreram, tivesse ou não a covid-19 a ver com morte.
Em Itália, camiões militares a serem carregados com caixões para serem cremados em massa. Em Espanha, funerais ‘drive through’ com as famílias a terem que fazer despedidas sumárias sem sair do carro. Nos Estados Unidos, cadáveres guardados às dezenas em camiões frigoríficos por falta de capacidade das morgues. No Uruguai, corpos de vítimas da covid-19 embrulhados em sacos de plástico deixados nas ruas.
No dia da primeira morte por covid-19 em Portugal, tinha-se ultrapassado a barreira dos 7.000 mortos em todo o mundo. Três meses depois, a mortalidade a nível global supera as 400.000 pessoas.
Estados Unidos, com mais de 115.000 mortos, Brasil com mais de 42 mil, Reino Unido com mais de 41 mil, Itália, com mais de 34 mil mortos e França, com mais de 29 mil, são os países onde morreram mais pessoas.
Os números absolutos destes países são muitíssimo superiores aos verificados em Portugal, mas o panorama muda quando se olha para as mortes por milhão de habitante, porque aí Portugal é o 16.º país do mundo, registando-se 144,43 mortes por milhão, poucos lugares abaixo dos Estados Unidos ou do Brasil, de acordo com os dados da plataforma estatística Eyedata.
A Bélgica é o país no cimo da tabela, com 841 mortes por milhão, seguida de Reino Unido, com 610, Espanha (580), Itália (562), Suécia (460), França (436), Holanda (349), Irlanda (346), EUA (345) e Suíça (225). O Brasil surge em 14.º lugar, com 178 mortos por milhão.
Em Portugal, a região Norte, onde o novo coronavírus primeiro atacou em força, é onde mais pessoas morreram até agora – 812 – de acordo com o boletim de sábado da Direção Geral da Saúde.
Lisboa e Vale do Tejo, onde o surto é agora mais preocupante, tinha 422 mortos no sábado, a região Centro 246, Algarve e Região Autónoma dos Açores 15 cada uma e no Alentejo duas vítimas mortais.
A Região Autónoma da Madeira é a única parte do território português onde ainda não morreu ninguém com covid-19.
Nos números acumulados da pandemia, um mês depois da primeira morte, a 16 de abril, Portugal registava 599 mortos. No mês seguinte, 1203 pessoas tinham morrido, pouco mais do dobro, mas, nos últimos trinta dias, o ritmo das mortes decresceu.
De acordo com o mais recente boletim do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre a pandemia, o número total preliminar de mortes ocorridas entre 01 de março e 24 de maio aponta para mais 2.374 mortes do que no mesmo período de 2019 e mais 1.133 do que no mesmo período de 2018.
Das pessoas que morreram a mais em relação ao que se tinha passado em 2019, 2.262 tinham 75 anos ou mais.
O INE regista ainda que nas últimas quatro semanas, 42,07 mortes em cada mil se atribuíram à covid-19.
O padrão de mortalidade em 2020 no país, segundo o INE, mudou a partir de meados do mês de março, correspondendo ao período em que o coronavírus começou a matar pessoas em Portugal.
De acordo com declarações do secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, no sábado, a taxa de letalidade global em Portugal estava nos 4,1%, subindo para 17,4% acima dos 70 anos.
Dos mais de 36 mil casos detetados em Portugal, mais de 22 mil já recuperaram.
Em todo o mundo, a pandemia de covid-19, que começou em dezembro na cidade chinesa de Wuhan, já provocou mais de 426 mil mortos e infetou mais de 7,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
C/Lusa