Na conferência de imprensa de acompanhamento da pandemia da covid-19, Marta Temido declarou que “os vários setores do Governo que se defrontam com esse problema estão a procurar fazer o melhor para, em tempo, encontrar soluções alternativas”, como criar condições para horários de entrada desfasados.
Serão “soluções que permitam que os horários sejam ajustados ou que as pessoas tenham condições para estarem mais protegidas”, afirmou a ministra, sem concretizar, indicando que “algumas já estão a ser instaladas”, mas salientando que “nada disto é fácil”.
“A vida prática com a Covid é, de facto, muito difícil, e não conseguiremos nunca decretar todas as medidas que resolvam estes problemas”, admitiu.
Desde o início da semana, com o começo do ano letivo, verificaram-se concentrações de centenas de pais e crianças à porta de algumas escolas, confrontadas com horários de entrada diferentes para alunos de anos diferentes e com restrições nas entradas para limpeza das mãos e calçado que fazem aumentar o tempo necessário para a entrada dos alunos na escola.
Os estabelecimentos de ensino seguem o referencial da Direção-Geral de Saúde para a reabertura do ano escolar, contestadas numa petição que reunia hoje à tarde cerca de cinco mil assinaturas e que exige uma revisão de algumas medidas, como a obrigatoriedade de uso de máscaras por crianças com menos de 12 anos – as autoridades de saúde determinaram que a partir dos 10, é preciso usá-las -, as restrições nos intervalos ou a obrigatoriedade do uso permanente de máscaras por educadores de infância.
Questionada sobre riscos para a saúde mental e para o desenvolvimento infantil em consequência destas restrições, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, desvalorizou-os e afirmou que nenhuma medida foi adotada “de ânimo leve”.
Acrescentou que “muitos pediatras” consultados pelas autoridades de saúde “sobre o potencial efeito da máscara no desenvolvimento das crianças” afirmaram que na avaliação dos custos e benefícios da medida, “as crianças facilmente se adaptam”.
“Não temos escolha. Ou corremos um risco maior de nos infetarmos ou, se não queremos correr um risco tão grande – não havendo risco zero – temos que viver de forma diferente”, declarou a diretora-geral da Saúde.
No entanto, entre os profissionais de saúde mental, há opiniões diferentes, como as dos cerca de 200 psicólogos que em fins de julho subscreveram uma carta aberta em que, entre outras coisas, apontam que países como a Dinamarca não tornou obrigatórias as máscaras para os adultos nas creches e que não teve aumento de casos associado às escolas, que reabriram em meados de abril
Na carta, opuseram-se a “medidas tão restritivas e limitadoras de um desenvolvimento harmonioso e saudável”, como o impedimento de os pais entrarem nas escolas e consideraram “urgente proporcionar às crianças um regresso à escola dentro da maior normalidade possível”.
Também a direção Sociedade Portuguesa de Pediatria, em recomendações publicadas na sua página de Internet, defende que "deve existir flexibilidade no cumprimento das normas, em cada momento e tendo em conta os dados locais de transmissão na comunidade".
"No início do ano escolar, para as crianças que vão contactar pela primeira vez com a escola, devem criar-se condições de segurança que permitam o acompanhamento de um familiar ao novo espaço, dando tempo à criação de vínculo afetivo", considera.
C/Lusa