“Todas as condições para que a obesidade aumente estão criadas, as pessoas ficaram com menos posses, com menos dinheiro, os tratamentos estão parados”, afirmou o Presidente da Associação dos Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO), Carlos Oliveira, à agência Lusa a propósito do Dia Nacional de Luta contra a Obesidade, que se assinala no sábado, dia 23 de maio.
Além de as pessoas terem “menos dinheiro”, o que “obriga a uma alimentação menos saudável”, o confinamento também faz com que “muita gente não faça exercício absolutamente nenhum”.
“A obesidade vai aumentar, mas vão aumentar também as outras doenças que vão aparecer com a obesidade” e que “vão gastar dinheiro ao Estado porque são todas comparticipadas”, advertiu.
A Presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), Paula Freitas, também alertou para esta situação, lembrando que todos os estudos demonstram que a obesidade e a pré-obesidade são mais prevalentes nas classes sociais mais desfavorecidas.
“Os problemas económicos podem potencialmente agravar ainda mais o problema da obesidade, as pessoas têm menor acesso à alimentação correta”, mas também poderão “ter menor acessibilidade aos cuidados de saúde ou a qualquer terapêutica farmacológica porque os fármacos para esta doença não são comparticipados”, disse a endocrinologista à Lusa.
Segundo a especialista, o facto de estar a assistir-se a “um agravamento das dificuldades económicas” na sequência da pandemia faz com que pessoas acabem por comprar alimentos “mais baratos, mas que são muito ricos em gordura, em sal e em açúcar em detrimento de uma alimentação mais correta, mais variada, com hortofrutícolas, carne, peixe”.
Todos devem “olhar para a obesidade” como uma doença que também “é fator de risco para mais de 200 patologias associadas”, sendo por isso “muito importante que se trate a causa desde o início e não só as consequências”.
Uma vez que a prevalência da obesidade tem aumentado nos últimos anos, a comunidade científica, os profissionais de saúde, mas também a sociedade civil, devem unir-se numa “luta enorme” para travar o seu aumento “e preferencialmente tentar regredir os números” desta doença em Portugal, onde cerca de 60% das pessoas são obesas ou pré-obesas.
Dado que Portugal foi dos primeiros países a reconhecer a obesidade como uma doença, a SPEO gostaria de a ver tratada como “a patologia grave que é”.
“É preciso um diagnóstico mais atempado e reencaminhamento dentro do sistema de saúde, apostar na promoção de uma melhor educação para a saúde e promoção correta da perda de peso”, defendeu em comunicado.
Existe também a necessidade de uma reestruturação dos programas de tratamento existentes no país: “Há que dotar os profissionais de saúde dos Cuidados de Saúde Primários de conhecimentos sobre o tratamento global da obesidade, mas também de meios físicos e económicos”.
Para assinalar Dia Nacional de Luta contra a Obesidade, as organizações lançaram o ‘site’ “A Verdade sobre o Peso” (www.averdadesobreopeso.com), com informação cientificamente validada sobre os vários fatores que podem influenciar o excesso de peso: genética, hormonas, ambiente, aspetos biológicos e psicológicos de cada indivíduo, sono e stress.