Muitas consultas e tratamentos adiados marcam hoje de manhã o primeiro dia de greve dos enfermeiros no hospital do Funchal e no centro de saúde de Câmara de Lobos, onde os utentes aguardavam, com serenidade, informações sobre o atendimento.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do Sindicato dos Enfermeiros da Madeira, Juan Carvalho, explicou que o sindicato não aderiu a esta greve porque vai na terça-feira, juntamente com o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, reunir, em Lisboa, com o Ministério da Saúde.
"Há dois processos negociais em simultâneo com ‘timings’ diferentes", observou, referindo-se à reunião de terça-feira entre o Sindicato dos Enfermeiros da Madeira e o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses que, por sua vez, constituem a comissão negociadora sindical de enfermeiros.
"Era prematuro fazer greve sem sabermos quais as propostas que estarão em cima da mesa", salientou.
Na consulta externa do Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, os serviços estavam a decorrer normalmente com os utentes a registarem as suas consultas e a serem aconselhados para aguardarem pela respetiva chamada.
"Ouvi falar que havia greve mas a minha mãe já foi à enfermeira e está à espera de ser chamada para a consulta de rotina. Quanto ao resto veremos", disse à Lusa Ana Rodrigues, cuja mãe, de 84 anos, veio da Calheta, e ela, do Caniço.
"Até agora está a correr bem", concluiu.
José Pereira, outro utente, veio do Campanário, concelho da Ribeira Brava, e aguardava também pela consulta de nefrologia, marcada há um ano.
"Não sabia que havia greve mas, mesmo que soubesse, vinha na mesma porque tinha de dar comparência, perdi um rim e tinha consulta marcada há cerca de um ano", explicou.
"Mas já dei uma volta e já vi que o doutor tem a sala cheia", acrescentou.
Renato, outro utente, do Funchal, adiantou que sabia que havia greve porque a mulher é também enfermeira, "mas está de férias".
"Dei o nome e não me disseram nada a não ser que aguardasse pela consulta" de ortopedia, marcada no princípio do ano.
No centro de saúde do centro de Câmara de Lobos, no concelho vizinho a oeste do Funchal, um dos mais populosos da Madeira, a jovem mãe Andreia Aguiar disse à Lusa que desconhecia a greve mas que a consulta do seu bebé foi remarcada.
"Eles [enfermeiros] têm direito a lutar pelos seus direitos, mas quem fica prejudicado são os utentes", declarou.
Já Leonel Ramos indicou que "as análises estão a ser feitas, mas os pensos não" e as pessoas estão a ser chamadas, acrescentando: "Mas já vi hoje tanta gente ir embora".
O utente referiu estranhar os serviços estarem a remarcar tratamentos para terça-feira, quando a greve é de cinco dias e criticou a opção, referindo "a falta de enfermeiros nos serviços, alguns licenciados, que acabaram o curso" e não estão a trabalhar.
Também João Fernandes aguardava pacientemente pela consulta de enfermagem que tinha marcada, mas acabou por sair pouco tempo depois, sem ser atendido.
Irene Freitas foi a esta unidade de saúde para tirar uns pontos de uma pequena cirurgia, mas adiaram o serviço para quarta-feira, contou à Lusa.
O Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM) anunciou à Lusa que, a meio da manhã, irá emitir um comunicado dando o ponto da situação no setor.
Os enfermeiros iniciaram hoje uma greve que decorrerá até sexta-feira, contra a recusa do Ministério da Saúde em aceitar a proposta de atualização gradual dos salários e de integração da categoria de especialista na carreira.
A greve foi marcada pelo Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem (SIPE) e pelo Sindicato dos Enfermeiros (SE) para o período entre as 00:00 de hoje e as 24:00 de sexta-feira.
Os enfermeiros reivindicam a introdução da categoria de especialista na carreira de enfermagem, com respetivo aumento salarial, bem como a aplicação do regime das 35 horas de trabalho para todos os enfermeiros, mas a secretaria de Estado do Emprego considerou irregular a marcação desta greve, alegando que o pré-aviso não cumpriu os dez dias úteis que determina a lei.
LUSA