A Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) alertou para o aumento da violência, que "tem adquirido um carácter estrutural", em particular a das forças de segurança.
Em comunicado, a que a agência Lusa teve acesso na quarta-feira à noite, a CEV afirmou que se está "perante uma terrível escalada da violência. A detenção de numerosas pessoas, sobretudo jovens, por discordarem do Governo, agrava mais a situação".
"A repressão oficial gera, em ocasiões, respostas violentas, o que contribui para criar um clima de tensão e anarquia, com perigosas consequências", afirmou.
Os bispos alertaram para as "sérias denúncias sobre torturas e maus-tratos, detidos que são processados arbitrariamente perante a justiça militar, contrariando a Constituição e as leis, e que têm sido levados indevidamente para prisões de segurança máxima, como se fossem perigosos criminosos".
"Existe um desprezo pela dignidade humana, que se expressa na violação e negação contínua dos direitos humanos pelas autoridades", denunciou o comunicado.
"É hora de uma mudança de rumo na orientação política do Governo (…) a crise que padecemos data de há vários anos e tem-se aprofundado nos últimos meses, pela iniciativa do Governo de convocar uma Assembleia Constituinte, questionada e recusada pela maioria do povo venezuelano".
A CEV alertou que a Constituição venezuelana "tem sido violada" e que o Supremo Tribunal de Justiça e o Conselho Nacional Eleitoral apoiam as propostas do "Executivo, sem ter em conta os princípios básicos da democracia participativa estabelecidos na Constituição".
"O projeto de Constituinte pretende impor um regime ditatorial no país (…) e não foram estabelecidos limites no exercício das suas funções e extensão de tempo (…) o que se procura é instaurar um Estado socialista, marxista e militar, com o desaparecimento da autonomia de poderes", afirmou.
Neste sentido, a CEV lembrou que a Assembleia Nacional, onde a oposição detém a maioria, está a promover, para 16 de julho, uma "consulta popular que goza de toda a legitimidade".
"Consideramos que é uma provocação, de parte do Governo e do CNE, convocar, para esse mesmo dia, um simulacro das votações (para a Constituinte de 30 de julho) em alguns centros eleitorais do país, pois pode gerar lamentáveis conflitos", advertiu.
No documento, a CEV pediu ao Presidente Nicolás Maduro que desista da proposta da Assembleia Constituinte, reconheça a autonomia dos poderes, abandone a repressão de manifestantes opositores, desmantele e sancione os grupos armados, e procure solucionar os graves problemas dos venezuelanos, permitindo a abertura de um canal humanitário para medicamentos e alimentos para os mais necessitados.
LUSA