Em declarações à agência Lusa, Rita Cordovil, coordenadora deste estudo que avaliou crianças entre os seis e os nove anos, contou à agência Lusa que os investigadores concluíram que, após o primeiro confinamento (no ano passado), “mesmo as crianças que estavam em percentuais mais altos e, portanto, não estavam tão mal a nível de competência motora, a seguir ao confinamento estavam bastante abaixo do esperado para a idade”.
“Já desconfiávamos, mas ficou confirmado”, acrescentou a investigadora da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, sublinhando que a capacidade motora destas crianças foi medida antes e depois do confinamento com instrumentos que permitem conclusões factuais e sem subjetividade.
“Não sabíamos que vinha aí a covid e tínhamos estado a medir para outro estudo a competência motora deles e (…), quando as aulas reabriram, tivemos a sorte de conseguir voltar às escolas (…) e aplicar novamente os testes de competência motora”, contou.
Rita Cordovil explicou que a bateria de testes aplicada avalia a competência motora em três grandes grupos de movimentos: estabilizadores ou posturais, movimentos mais locomotores e movimentos mais manipuladores e de interação com objetos.
“O que fazemos são testes como, por exemplo, saltar rapidamente de um lado para o outro sobre uma madeira e ver quantos saltos eles conseguem fazer num determinado tempo, ou ver quão longe conseguem chegar no salto em comprimento ou até lançar bolas o mais longe possível, ou chutá-las”, explicou.
Tudo isto é mensurável de forma quantitativa – a velocidade a que bola é chutada, por exemplo, é medida com um radar – e “depende pouco da subjetividade do avaliador”, disse a responsável, referindo, em contraponto, os questionários que muitas vezes acarretam alguma subjetividade na avaliação.
O trabalho avaliou inicialmente (antes do confinamento) 182 crianças e, depois do confinamento, voltou a avaliar 114 delas (50 rapazes e 64 raparigas) de uma escola pública do distrito de Lisboa. Conclui que, independentemente do sexo, o desempenho motor após o confinamento em cinco dos seis exercícios (exceto no caso do salto lateral nos rapazes) foi menor do que antes do confinamento.
“O que me preocupa mais é que esta é uma fase muito importante e muitas escolas, com as restrições pandémicas e mesmo no pós-confinamento, o que fizeram foi transformar uma das horas de Educação Física semanais em hora de aula teórica”, afirmou Rita Cordovil, insistindo que, apesar de fazer sentido ter aulas teóricas, era importante diminuir esta carga, aumentando a das aulas práticas.
Considera essencial que as escolas encontrem formas de compensar esta falta de exercício no confinamento, sublinhando que o único estímulo que muitas destas crianças têm é nas aulas de Educação Física.