"O tipo de declarações que foram proferidas ontem [quarta-feira], além de serem uma falsidade incrível, mais preocupante para mim, enquanto médico e enquanto o foco é o doente oncológico e é o doente madeirense, é o alarme que isto causa na população", disse Guy Vieira.
O médico foi ouvido na Comissão Eventual de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM), onde afirmou que os exames feitos na Clínica de Radioncologia, instituição privada que opera na região desde 2009, têm "qualidade".
Na quarta-feira, o coordenador da Unidade de Medicina Nuclear pública, Rafael Macedo, disse na comissão de inquérito que "alguns colegas são negligentes", quer no setor público como no privado, acusando-os de fornecerem tratamentos que "não são adequados", apontando ainda deficiências nas fichas clínicas e no registo de doentes.
Na sequência da audição a Rafael Macedo, o SESARAM decidiu "suspender hoje os exames de forma a que estejam reunidas todas as condições para a serenidade da prestação" dos serviços de Medicina Nuclear.
"Um médico vir dizer que é feita má prática, terá que o provar", afirmou Guy Vieira, garantindo, no entanto, que "todos os exames de medicina nuclear [na clínica privada] são feitos com qualidade".
A Comissão Eventual de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM) foi constituída a pedido da maioria social-democrata, na sequência de uma reportagem da TVI transmitida em fevereiro.
A investigação jornalística concluiu que o Hospital do Funchal encaminhava pacientes para fazer exames de medicina nuclear numa clínica privada, enquanto a sua própria unidade, inaugurada em 2013 e certificada em 2017, estava "praticamente parada".
O diretor clínico da Clínica de Radioncologia da Madeira, que pertence ao Grupo Joaquim Chaves Saúde, disse que foi já apresentada queixa na Ordem dos Médicos contra Rafael Macedo por ter passado uma prescrição de exames "desnecessária" e, como tal, "falsa" à jornalista da TVI que fez a reportagem na clínica.
Guy Vieira disse que a instalação da radioterapia na Madeira trouxe um "ganho muito grande", porque os doentes deixaram de se deslocar ao continente, onde permaneciam cerca de seis semanas em tratamento, vincando que o tratamento oncológico é tão bom na Madeira como em qualquer outra parte da Europa.
O responsável indicou que, ao nível da radioterapia, a clínica tratou 4.118 doentes entre 2009 e fevereiro de 2019 e, por outro lado, confirmou que o serviço funcionou até 2015 com uma licença provisória, porque essa era uma "prática usual" à altura, ao passo que atualmente esse tipo de licença permite operar apenas ao nível de testes.
Guy Vieira disse ainda que a questão foi alvo de um processo de investigação criminal, entretanto arquivado pela Comarca da Madeira.
Entre 2009 e 2018, o Governo Regional da Madeira pagou 22 milhões de euros ao Grupo Joaquim Chaves Saúde para a prestação de serviços, sendo que 1,5 milhões euros visou a área da medicina nuclear e o restante – mais de 90% – cuidados de radioterapia, um serviço que o setor público não dispõe.
Foi este contrato que lançou suspeitas na opinião pública e motivou a constituição da Comissão Eventual de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear, formada por deputados do PSD, PS, CDS-PP, BE e JPP, e com um prazo máximo de funcionamento de 120 dias.
LUSA