Num documento intitulado “Orçamento do carbono vs. políticas climáticas: quanto tempo temos ainda?”, o coletivo faz uma série de cálculos que “mostram a impossibilidade de conciliar o realismo político atual com o realismo físico da crise climática”.
Mais concretamente, quis comparar os planos do Governo português e a ciência climática, para responder à pergunta “De acordo com os planos do Governo, quando acabaria o orçamento de carbono de Portugal?”.
Aceitando o diagnóstico feito no último relatório do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado na segunda-feira, a associação faz as contas ao orçamento do carbono (quantidade de CO2 que Portugal ainda pode emitir sem ultrapassar a meta de 1,5ºC de aquecimento global) e às metas nacionais, para concluir que a margem se esgotará “já entre 2026 e 2035 – se não se esgotou já”.
Ou seja, “os planos climáticos do Governo só podem ser compatíveis com a emergência climática se (…) incluírem fechar a economia inteira” dentro de cinco a 14 anos.
E isto assumindo que o atual Governo vai implementar políticas para cumprir as metas – “algo que não aconteceu nos dois mandatos seguidos” – e que os seguintes sete Governos sucessivos vão igualmente cumprir o plano, frisa o movimento, falando na “necessidade urgente de dizer a verdade sobre as políticas climáticas atuais e o seu significado em relação à ciência climática”.
O mais recente relatório do IPCC, órgão das Nações Unidas que desde 1988 analisa os efeitos das alterações climáticas, foi elaborado por 234 autores de 66 países, e concluiu que a temperatura global subirá 2,7 graus em 2100, se se mantiver o atual ritmo de emissões de gases com efeito de estufa, apontando o dedo aos humanos, "indiscutivelmente" responsáveis pelos problemas climáticos.
“Aceitando o consenso científico em relação à crise climática, se acreditarmos na execução dos planos delineados pelo Governo, se acreditarmos que os próximos sete governos respeitarão e executarão o mesmo plano, se acreditarmos que os cortes previstos são verdadeiros (i.e. não utilizam jogos contabilísticos para fingir cortes onde não existem) e se aceitarmos que temos sorte (ou seja, que estaríamos por chance dentro da probabilidade de 67% calculada por IPCC), então o orçamento de carbono de Portugal acabaria entre 2026 e 2035, o que significaria o encerramento da atividade económica por completo", explicita o Climáximo.
O “cenário principal” identificado pelo coletivo é aquele em que “o orçamento de CO2 de Portugal terminaria em 2035, se os planos de Governo fossem realizados como divulgados”.
Porém, este cenário altera-se se outras variáveis entrarem na equação.
“Se considerarmos as emissões de outros gases (como metano, por exemplo) ou a resposta do sistema climático a estas emissões no máximo da faixa de incerteza considerada no relatório do IPCC, o orçamento de CO2 de Portugal termina em 2026”, avisa.
Mas há exemplos ainda piores: se o aquecimento histórico (que já ocorreu desde a época pré-industrial) estiver no máximo da faixa de incerteza considerada no relatório do IPCC, “o orçamento global de CO2 já é negativo”.
O mesmo acontece se se considerar o aquecimento que acontecerá após atingir a neutralidade carbónica no máximo da faixa de incerteza considerada no relatório do IPCC.
O cenário “negativo” repete-se se forem considerados “critérios de justiça e capacidade na distribuição das quotas de emissões de gases com efeitos de estufa”, obrigando Portugal “a contribuir com mais absorções do que emissões de CO2 entre 2020 e 2100”.
Perante isto, o Climáximo diz que “Portugal devia cortar as emissões de CO2 em mais de 75% até 2030, chegando à neutralidade carbónica bem antes do ano 2040 e a partir daí contribuindo com emissões negativas”.
Esta seria – na opinião do movimento – “a trajetória compatível com o orçamento de carbono de Portugal e com a justiça climática”.
O movimento aproveita para prestar homenagem às mobilizações de rua, com pico em 2019, que colocaram as alterações climáticas na agenda pública e política, como a ciência, apesar de “consensual há várias décadas”, ainda não tinha conseguido fazer.