Numa entrevista aos jornais Setubalense e Público, Igor e Yulia Khashin explicam que o atendimento de refugiados era intermediado por um técnico da autarquia no âmbito do atendimento social.
“Estávamos sempre acompanhados por uma portuguesa. Era ela quem preenchia os formulários. Foram tiradas fotocópias do passaporte e da certidão de registo de proteção temporária, que foram juntas ao processo e guardadas na câmara”, explica Yulia Ksashin.
A mulher de Igor Khashin justifica ainda que “a digitalização é feita para carregar na plataforma do SEF, para fazer o pedido de proteção temporária”.
“Temos de digitalizar os documentos e anexar na plataforma. As questões, colocadas pela plataforma do SEF, e não por nós, são o nome da mãe, nome do pai, local de nascimento, agregado familiar. Tem de ir tudo preenchido”, explica.
Na primeira entrevista desde que começou a polémica, Igor e Yulia Khashin contam que os processos, fisicamente, em papel, eram guardados no gabinete da câmara e que ó único sítio para onde foram encaminhados foi para o Instituto de Emprego e Formação Profissional, para inscrição no curso de português.
Igor garante que não é espião russo e que não enviou dados para qualquer autoridade russa, embaixada incluída, e insiste que, mesmo quando falavam com as pessoas sobre a família era porque muitas perguntavam como os familiares podiam sair da Ucrânia.
Igor adianta que participou no acolhimento de refugiados ucranianos porque só assim mostrava a sua vontade de apoiar as pessoas e lembra que “tudo começou de repente”, ninguém estava preparado e que ele tinha experiência e algum trabalho desenvolvido naquela área.
“Nós moramos cá há mais de 20 anos, a nossa associação foi fundada em 2002 para dar resposta às necessidades dos imigrantes, trabalhamos com todos. A maior parte da associação são imigrantes do Leste, sendo a maioria ucranianos, moldavos e russos. Mas russos são muito poucos”, acrescenta.
Sobre se falava com os refugiados em russo, diz que sim, mas que percebe ucraniano, e recorda que no Leste da Europa, o russo “é praticamente como o inglês na Europa ocidental”, uma “língua de comunicação, de instrumento”.
“Nós nem pensámos nessa questão, de quem vai atender os refugiados, se russos ou ucranianos. Não pensámos mesmo. Havia uma situação de urgência que ninguém esperava”, acrescenta Yulia.
Sobre como explica ter sido dirigente do Conselho de Compatriotas Russos, Igor diz que geria o conselho em Portugal há quatro anos e que “é igual ao Conselho das Comunidades Portuguesas”.
“O objetivo deste conselho não é mais nem menos que o mesmo que faz o Estado português. Há a Direção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas. Este trabalho é o que faz qualquer Estado. Quando recebia o convite para participar em conferências, eu ia e trazia as necessidades e as questões dos imigrantes”, justifica.
O casal conta ainda que a associação que fundou atendeu milhares de imigrantes em 20 anos, a maioria ucraniana – “porque é a comunidade mais representada “ –, que tudo foi feito “com boa intenção e de acordo com todos os procedimentos estabelecidos”.
“Ficámos numa situação em que nós é que temos que provar que não somos maus. Fiquei chocada”, desabafa Yulia, lamentando: “O nosso trabalho de 20 anos foi destruído num dia”.
Ambos dizem ver a guerra na Ucrânia como “uma tragédia” e, quanto à investigação da judiciária, Igor responde: “A Judiciária faz o seu trabalho, que faça o que deve fazer, nós não temos nada a esconder”.
Lusa