A chegada do imperador, uma figura acarinhada pelos madeirenses e ainda hoje alvo de interesse por parte de residentes e visitantes, ocorreu em 19 de novembro de 1921, depois da assinatura do Armistício que pôs fim a quatro anos de guerra (em 1918) e da queda do império Austro-Húngaro, derrotado no conflito.
Para evitar uma recomposição do império, já que Carlos I nunca assinou a sua abdicação, os Aliados enviaram-no para a Madeira, porque a ilha ficava longe do teatro político.
A chegada de Carlos de Habsburgo e da mulher, Zita de Bourbon, foi noticiada pelo Diário de Notícias da Madeira, na primeira página, no dia seguinte: “No exílio, os ex-reis da Hungria na Madeira”.
“Os soberanos destronados chegaram ontem ao Funchal” e “não são considerados como prisioneiros, mas como hóspedes do Governo português”, escreveu o matutino, apontando ser “a primeira vez que a hospitaleira ilha da Madeira serve de residência a soberanos exilados”.
Carlos I tinha partido de Gibraltar a bordo do cruzador britânico Cardiff e, devido a dificuldades financeiras, instalou-se na Quinta no Monte, no Funchal, cedida então pelo banqueiro Rocha Machado.
Aquando da sua morte (após 134 dias a viver na Madeira), foi decretado luto na Madeira – as lojas encerraram as portas e uma grande multidão oriunda de vários pontos da ilha fez questão de lhe prestar homenagem, sendo comum os habitantes irem pedir-lhe também graças na igreja da padroeira da região.
Foi na Quinta do Monte que morreu, em 01 de abril de 1922, vítima de uma “dupla pneumonia gripal”, aos 34 anos, de acordo com a sua certidão de óbito.
“Fim dum ex-imperador e rei”, anunciou então o Diário de Notícias, acrescentando: “Exalou o último suspiro ontem às 12 horas e 18 minutos”.
“No exílio, morreu ontem, na Quinta do Monte, S. M. Imperial Carlos de Áustria”, escreveu também o Diário da Madeira.
De acordo com os três médicos assistentes, “o seu cadáver foi logo embalsamado”, mas, seguindo a tradição dos Habsburgos, o seu coração foi levado pela imperatriz Zita para Viena.
Sepultado numa dependência da Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Monte, elevada a santuário nacional, o corpo encontra-se atualmente numa capela tumular, inaugurada em 1968. Os restos mortais estão num cofre de chumbo, colocado numa caixa-forte de ferro.
A Quinta do Monte, hoje Quinta dos Jardins do Imperador, foi adquirida em 1982 pelo Governo Regional, que ali pretende instalar o Museu do Romantismo, num investimento público de 1,2 milhões de euros.
Devido à religiosidade do ex-imperador e a um milagre que lhe é atribuído – a cura, em 1960, de uma úlcera varicosa numa freira polaca, missionaria no Brasil – o papa João Paulo II beatificou-o, em 2004.
Uma estátua no adro da Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Monte e uma exposição permanente fazem perdurar sua passagem pela Madeira. Ainda hoje, os seus descendentes deslocam-se à Madeira com frequência.
LUSA