Vinte e duas pessoas deixaram o emprego, em 2018, para poderem dedicar todo o seu tempo a outras pessoas, segundo dados da FEC – Fundação Fé e Cooperação, que coordena a Rede de Voluntariado Missionário, composta por 61 organizações.
Este ano, partem 421 voluntários para missões além-fronteiras, segundo Catarina António, porta-voz da FEC, que explicou à Lusa que a grande maioria aproveita as férias e vai apenas algumas semanas, mas há quem decida participar em missões de longa duração.
Alguns estão fora seis meses, outros chegam a estar mais de dois anos longe de casa. Para trás ficam a família e os amigos, mas também o trabalho.
Os números da FEC mostram que, de ano para ano, há cada vez mais gente a abraçar projetos de longa duração: “Este ano há nove pessoas que pediram licença sem vencimento e outras 22 que se despediram para partir em missão. São pessoas que, no momento de fazer uma escolha, não se assustam com as incertezas do futuro e partem”, explica Catarina António.
É o caso do advogado Pedro Nascimento que, aos 28 anos, trocou o escritório nas Laranjeiras, em Lisboa, por uma missão de dois anos na Etiópia. À Lusa garante que “a decisão não foi tomada de ânimo leve”.
Já tinha participado em duas missões, de um mês cada, em Moçambique, e foi durante a primeira experiência, em 2015, que nasceu a vontade de ser voluntário de longa duração.
Pedro Nascimento apercebeu-se de que precisava de mais tempo: “A experiência de Moçambique foi muito intensa, mas, por vezes, havia dificuldades de comunicação, porque há muita gente que não fala português”.
Agora tem como missão pessoal aprender amárico, a língua oficial da Etiópia. Pedro Nascimento será o único voluntário missionário português na Etiópia.
O jovem advogado pertence aos Leigos Missionários Combonianos e representa uma minoria, uma vez que a maioria dos voluntários é mulher, participa em ações em Portugal e aproveita as férias para ajudar.
Rui Vieira também é advogado e também se despediu para embarcar numa missão em África. Apesar dos percursos de vida aparentemente semelhantes, Rui e Pedro não se conhecem e existem muitos outros pontos em que as suas vidas se afastam.
Rui não vai partir sozinho. Planeou a viagem com a namorada que já será sua mulher quando embarcarem. O casamento acontecerá a 15 de setembro e a lua-de-mel será em Moçambique.
Rui abandonou a sociedade de advogados e Susana despediu-se da clínica dentária onde trabalhava como gestora.
Moçambique é um dos destinos com mais voluntários missionários portugueses: Este ano serão 67, sendo apenas ultrapassado por Cabo Verde, que acolhe 117 voluntários, e São Tomé e Príncipe que recebe 76.
Foi precisamente numa missão, em São Tomé, que o casal se conheceu. “Ali nasceu o amor”, conta, a rir, Susana Magalhães, de 31 anos, explicando que, durante os quatro anos de namoro e noivado, cultivaram sempre o desejo de participar em novas missões.
“É algo que queremos fazer e que para nós faz todo o sentido enquanto cidadãos e cristãos”, resume. Em Moçambique estarão ligados a projetos de aleitamento materno, agricultura e educação.
No total, há 1.028 portugueses que aceitaram dedicar-se a ações de voluntariado missionário, sendo que 607 participam em missões sem sair do país.
Susana, Rui e Pedro integram o grupo dos que partem para países em desenvolvimento e dos 87 voluntários que decidem repetir a experiência.
Durante o tempo que estiverem fora não terão qualquer rendimento, mas isso não os assusta. “Tenho confiança e acredito que, quando regressar, irei conseguir integrar novamente o mercado de trabalho”, diz Pedro Nascimento.
“Temos esperança de que vai correr tudo bem e acredito que, quando regressarmos, iremos arranjar emprego, tal como aconteceu da última vez”, conta Susana, explicando que, depois da última missão, Rui conseguiu voltar para o mesmo trabalho e ela arranjou um novo emprego.
LUSA